Conflito completa cem dias no Sudão com mais de 400 crianças mortas, segundo a ONU

Nações Unidas destacam ainda a crescente preocupação com os mais de 740 mil refugiados que fugiram do país

Após cem dias de combates no Sudão, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) informou na segunda-feira (24) que pelo menos 435 crianças foram mortas e mais de duas mil ficaram feridas.

A agência da ONU acrescentou que houve mais de 2,5 mil violações graves dos direitos das crianças – uma média de mais de uma por hora – em um país onde 14 milhões de jovens precisam de ajuda humanitária. 

“À medida que chegamos a mais de cem dias desde que o conflito no Sudão se intensificou, sabemos que está causando um impacto absolutamente terrível nas crianças e nas famílias”, disse o porta-voz do Unicef Joe English.

Ecoando essas preocupações, a agência de refugiados da ONU (Acnur) informou que quase 300 crianças deslocadas morreram de sarampo e desnutrição no Estado do Nilo Branco.

“É hora de todas as partes neste conflito encerrarem imediatamente esta trágica guerra”, disse o alto comissário para refugiados Filippo Grandi, em meio à crescente preocupação com os mais de 740 mil refugiados que agora fugiram do Sudão para os países vizinhos. 

De acordo com o Acnur, as condições são “angustiantes” para aqueles que buscam abrigo nos países vizinhos, onde os campos de deslocados estão superlotados, e a estação chuvosa dificulta o deslocamento e a entrega de ajuda. 

Protestos no Sudão ocorreram em Cartum e outras partes do país (Foto: Salah Naser/ONU News)
As crianças se defendem sozinhas

Até o momento, mais de 3,3 milhões de pessoas foram deslocadas dentro do Sudão e através de suas fronteiras, inclusive no Egito, onde o Acnur disse que a maioria das crianças continua chegando sem os pais.

“Para cada criança morta ou ferida, sabemos que muitas outras foram deslocadas de suas casas, sem acesso a serviços essenciais”, disse o Unicef em um comunicado, destacando a necessidade de acesso seguro e desimpedido a crianças e famílias para que possam receber o apoio de que precisam.

Apesar dos intensos esforços diplomáticos para acabar com os combates – notadamente pela União Africana (UA), o órgão regional da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), a Liga dos Estados Árabes e a ONU –, confrontos envolvendo as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e rivais Forças de Apoio Rápido (RSF) continuaram em várias frentes.

Apoiando o tão necessário diálogo pacífico, o chefe do Acnur, Grandi, disse que as pessoas devem poder deixar as áreas de conflito para encontrar segurança, seja dentro ou fora do país, e serem protegidas “de todas as formas de violência”.

Até o momento, a resposta da ONU dentro do Sudão é apenas 23% financiada. Tanto o Acnur quanto o Unicef apelaram urgentemente por mais apoio de doadores para ajudar as populações vulneráveis ​​que sofreram três meses de combates, concentrados em torno da capital Cartum, mas se espalhando para Darfur e outras regiões.

Saúde sob ataque

A saúde no Sudão atingiu “níveis extremamente graves” de colapso, com mais de 67% dos hospitais do país fora de serviço e com relatos crescentes de ataques a instalações e pessoal, disse a Organização Mundial da Saúde (OMS) em um comunicado.

Existem agora 51 ataques registrados em serviços de saúde verificados pela OMS, resultando em dez mortes e 24 feridos.

“É uma tragédia e um ultraje que, no meio desta crise cada vez mais profunda, os combatentes continuem a atacar instalações de saúde e trabalhadores, negando serviços que salvam vidas a civis inocentes quando estão mais vulneráveis”, disse o comunicado.

E a OMS alertou que doenças antes controladas – incluindo malária, sarampo, dengue e diarreia aquosa aguda – estão aumentando devido à interrupção dos serviços básicos de saúde pública.

Isso inclui vigilância de doenças, laboratório de saúde pública em funcionamento e equipes de resposta rápida. “Com o início da estação chuvosa no Sudão, os surtos provavelmente ceifarão mais vidas, a menos que sejam tomadas medidas urgentes para restaurar sua propagação”.

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