Um confronto violento entre as forças armadas chadianas e insurgentes do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, resultou na morte de 113 pessoas, incluindo 17 soldados, de acordo com informações divulgadas pelo exército do Chade no domingo (10). As informações são da Newsweek.
O embate ocorreu no sábado, na região do Lago Chade, no oeste do país, área conhecida por frequentes ataques do grupo extremista. Segundo o porta-voz do exército, general Issakh Acheikh, que fez um anúncio na televisão nacional, 96 militantes do Boko Haram foram mortos na ofensiva. As autoridades não revelaram mais detalhes sobre o confronto, deixando em aberto questões sobre a escala do ataque e a resposta das forças de segurança.
O Chade, que faz parte da Força-Tarefa Multinacional Conjunta (MNJTF, da sigla em inglês) ao lado de Nigéria, Níger e Camarões, tem enfrentado uma série de ataques por parte do Boko Haram nos últimos anos, especialmente nas áreas próximas ao Lago Chade, um reduto estratégico para os insurgentes devido ao seu difícil acesso e à presença de ilhas que servem como esconderijos.
O presidente Mahamat Idriss Déby Itno, que assumiu o poder após a morte de seu pai em 2021, prometeu reforçar a segurança na região e intensificar a luta contra os extremistas. Apesar dos esforços militares, a região do Lago Chade continua sendo um foco de instabilidade, com civis frequentemente pegos no fogo cruzado entre as forças de segurança e os militantes.
A região do Lago Chade está enfrentando um aumento significativo nos episódios de violência ao longo deste ano, atribuídos principalmente às ações de grupos insurgentes como o Boko Haram e o ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental). Essa nova onda de ataques está reacendendo preocupações sobre a segurança na área, que já vinha lutando contra a presença de extremistas há anos.
Nos últimos meses, diversas aldeias e comunidades ao redor do lago foram alvo de ataques, resultando em um aumento no número de deslocados internos e forçando muitas famílias a deixarem suas casas em busca de segurança. Fontes locais relataram que os insurgentes têm intensificado suas operações, com táticas que incluem sequestros, saques e assassinatos.
Essa escalada de violência ocorre em um momento em que as forças armadas do Chade haviam conseguido importantes avanços no combate aos extremistas. Em 2020, uma grande ofensiva militar foi lançada para desmantelar redutos insurgentes na região, levando a uma redução significativa nos ataques e proporcionando um período temporário de estabilidade. No entanto, os recentes episódios de violência estão colocando em risco esses ganhos, sugerindo que os grupos extremistas se reagrupam e adaptam suas estratégias.
Violência em alta
O incidente recente ocorre apenas um mês após um confronto violento que deixou 40 militares mortos em uma base militar do país. Em resposta, o presidente Mahamat Deby Itno lançou uma nova ofensiva militar com o objetivo de expulsar os militantes do Boko Haram da área, reafirmando seu compromisso em combater o extremismo.
A situação na região permanece tensa. Em março deste ano, um ataque similar atribuído ao grupo extremista causou a morte de sete soldados, ressaltando a persistente instabilidade na área.
Por que isso importa?
Os terroristas do Boko Haram lutam para criar um califado islâmico no nordeste da Nigéria. A ação já se espalhou para países vizinhos como Camarões, Chade, Níger e Benin, com assassinatos regulares, queima de mesquitas, igrejas, mercados e escolas e ataques a instalações militares.
Ultimamente, porém, o grupo passou a colecionar derrotas. Em junho de 2021, militantes do Boko Haram gravaram um vídeo no qual confirmaram a morte de Abubakar Shekau, seu notório ex-comandante.
Shekau morreu no dia 19 de maio daquele ano, em um confronto com jihadistas do rival ISWAP (Estado Islâmico da Província do Oeste da África) na floresta de Sambisa. “Shekau detonou uma bomba e se matou”, disse um militar nigeriano à época, em áudio ouvido pelo Wall Street Journal.
Formado por dissidentes do Boko Haram, o ISWAP se afastou de Shekau em 2016 e passou a se concentrar em alvos militares e ataques de alto perfil, inclusive trabalhadores humanitários. Depois da morte de Shekau, informações sugerem que houve uma aproximação entre os dois grupos, algo jamais confirmado oficialmente.
A insurgência islâmica na região já matou dezenas de milhares de pessoas, principalmente na Nigéria, e deslocou cerca de três milhões, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas)