Confronto entre exército e Al-Shabaab termina com mais de 50 mortos na Somália

Dois oficiais estão entre os cinco militares mortos em virtude da operação militar que teria neutralizado 47 extremistas

Ao menos cinco militares do exército da Somália e 47 membros do Al-Shabaab morreram em um confronto entre as Forças Armadas e a organização terrorista no sábado (8) perto de Mogadíscio, a capital da Somália. As informações são do site Garowe.

As Forças Armadas dizem ter recebido a informação de que o grupo extremista preparava um ataque contra as cidades de Masagaway e El-Dheer, no estado de Galmudug. Então, enviaram seus homens para conter o avanço dos insurgentes e prepararam uma emboscada, que de acordo com os militares foi bem-sucedida. Os alvos dos insurgentes seriam duas bases militares na região.

Além de uma ação por terra, também foi realizada uma operação aérea contra os extremistas, que perderam ao menos 47 homens. Uma perseguição foi realizada na sequência na tentativa de localizar os terroristas que conseguiram fugir.

Entre os cinco militares mortos, as Forças Armadas identificaram dois oficiais de alta patente. Um deles, o coronel Yonis Hassan Sabriye, havia perdido o pai, consultor jurídico da prefeitura de Mogadíscio, em um ataque terrorista que também vitimou o prefeito da capital em 2019.

O exército ainda desmentiu a informação divulgada pelo Al-Shabaab de que 59 soldados foram mortos no confronto. Os extremistas anda divulgaram fotos do que seriam seus seguidores dentro de uma das bases militares, mas as imagens carecem de verificação independente.

O combate entre soldados e extremistas teria durado duas horas, com troca de tiros e explosões de bombas. Após o alegado sucesso da resposta militar, as Forças Armadas afirmam que tanto as bases quanto as duas cidades estão seguras e ocupadas pelas forças do governo somali.

Soldados do exército da Somália em treinamento, imagem de 2012 (Foto: Amisom/Flickr)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques contra órgãos e oficiais do governo e entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Civis são frequentemente vitimados pelos atentados. Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram em 2022 na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de civis atingidos pelas tropas do governo, por milícias armadas aliadas às Forças Armadas e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto de 2022, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você.”

Mais tarde, em agosto de 2023, o chefe de Estado afirmou que o objetivo é derrotar completamente os extremistas em 2024. “Se não os eliminarmos completamente, talvez haja alguns bolsões com alguns Al-Shabaabs inofensivos que não poderão causar problemas”, disse ele.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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