Quênia registra aumento no número de sequestros orquestrados pelo Al-Shabaab

Militantes do al-Shabab vêm aumentando os sequestros em comunidades quenianas e dentro de missões humanitárias

Uma década após o Quênia ingressar na luta contra o Al-Shabaab, um grupo armado ligado à Al-Qaeda com sede na vizinha Somália, um aumento no número de sequestros vem sendo registrado em vilarejos e cidades quenianas. As informações são da agência qatari Al Jazeera.

De acordo com relatos da mídia local, um relatório de abril de 2020 indica que pelo menos 11 raptos ocorreram na cidade queniana de Mandera ao longo do ano anterior.

Homem resgatado de um grupo sequestrado por combatentes do al-Shabaab em 2014, na Somália (Foto: AMISOM Public Information/Flickr)

Por conta da ação dos extremistas, o sossego não habita mais o lar da queniana Amina (nome alterado para proteger a identidade). Em 2019, quatro homens armados identificados como membros do grupo jihadista entraram em sua casa e levaram seu marido.

“Eu tentei gritar e pedir ajuda, mas eles apontaram uma arma para mim. Eles me instruíram a permanecer em silêncio ou perderia minha vida”, disse a mulher de 49 anos, casada há 27. “Não tenho tido uma boa noite de sono desde então”.

Os sequestros também visam a trabalhadores humanitários e turistas nas regiões norte e costeiras do Quênia, que se juntou à União Africana na Somália em 2011 para combater o al-Shabaab nas áreas controladas pelos militantes e criar uma zona de segurança para suas fronteiras.

Passados dez anos, os crimes permanecem. Para piorar, o Al-Shabaab afirma que continuará a causar estragos, incluindo a realização de ataques terroristas, até que o Quênia retire suas tropas da Somália.

Holofotes e escravidão

Entre as ações mais ousadas do grupo, destaque para uma executada em 2019, quando dois médicos cubanos que trabalhavam na cidade de Mandera foram sequestrados. Os profissionais integravam uma equipe médica de 100 pessoas, enviada da ilha caribenha para trabalhar no Quênia por meio de um acordo entre os dois países.

”Os sequestros beneficiam o Al-Shabaab, não apenas em ganhar a atenção da mídia, mas também em adquirir profissionais treinados, como conhecimento médico, para tratar seus militantes e comunidades nas áreas que eles controlam”, explica Tabitha Mwangi, consultora de segurança sediada na capital Nairóbi.

Segundo ela, o sequestro mediante resgate é uma tática comum utilizada pelos terroristas para financiar suas operações e deslegitimar os governos.

Desaparecimento permanente

Já para os quenianos raptados, o Al-Shabaab não exige resgate. Famílias como a de Amina acabam sem receber exigências dos terroristas e convivem com o peso de não saber do destino das vítimas.

Os moradores dos condados do norte do Quênia convivem com marginalização e negligência históricas após a independência do país do poder britânico, ocorrida em 1963. Os casos de sequestros têm agravado a atmosfera de pobreza e subdesenvolvimento, exacerbando a insegurança pública e as mazelas econômicas.

Vertente radical

Tido como o braço violento da vertente radical sunita salafista no Chifre da África, o Al-Shabaab é o grupo terrorista dominante na Somália, no Quênia e na Tanzânia desde 2012, quando se aliou à Al-Qaeda e obteve seus maiores avanços.

A maioria de seus cerca de sete mil integrantes recebeu treinamento no Afeganistão e no Iraque. A corrupção e precariedade da estrutura policial no Quênia impedem o combate efetivo do grupo armado.

No Brasil

Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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