Duas crianças são mortas em ataque aéreo em um campo de refugiados de Tigré

Estima-se que milhares de pessoas foram mortas, com mais de duas milhões forçadas a fugir de suas casas em função do conflito na Etiópia

A Acnur (agência de refugiados da ONU) continua a reunir detalhes sobre o ataque de quinta-feira (6) que deixou três refugiados da Eritreia mortos, sendo duas crianças, e quatro outros feridos após um ataque aéreo no campo de refugiados de Mai Aini, em Tigré, no norte da Etiópia.

“Os refugiados não são e nunca devem ser um alvo”, disse o alto comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi, reiterando o apelo para que todas as partes no conflito “respeitem os direitos de todos os civis, incluindo refugiados”.

Segundo Grandi, os assentamentos de refugiados devem ser sempre protegidos”, em consonância com as obrigações legais internacionais que se aplicam a todos os que pegam em armas.

Enquanto isso, só aumenta a crise humanitária que assola a Etiópia desde novembro de 2020, quando tiveram início as hostilidades entre as forças do governo e os combatentes da TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político com um braço armado. Atualmente, cerca de 5,2 milhões de pessoas precisam de ajuda nas regiões setentrionais de Tigré, Amhara e Afar.

Em meio a denúncias de abusos generalizados dos direitos humanos, estima-se que milhares de pessoas foram mortas, com mais de duas milhões forçadas a fugir de suas casas. Nos últimos meses, assassinatos, saques e destruição de centros de saúde e infraestrutura agrícola, incluindo sistemas de irrigação vitais para a produção de alimento, só fizeram aumentar as necessidades humanitárias.

Cidadãos de Tigré, na Etiópia, fogem de conflitos em direção ao Sudão em dezembro de 2020 (Foto: UN Photo/Will Swanson)

“Em Tigré, a situação humanitária continua a piorar, com tensões restringindo o movimento de suprimentos humanitários ao longo da única rota disponível. Nenhum caminhão com suprimentos humanitários conseguiu entrar em Tigré desde 15 de dezembro”, disse o porta-voz da ONU Stéphane Dujarric.

Desde 12 de julho, apenas 1.338 caminhões entraram no Tigré, menos de 12% do necessário. Cerca de 100 caminhões devem ser admitidos todos os dias para atender às necessidades humanitárias das pessoas na região.

Desde 3 de janeiro, os parceiros da ONU que distribuem alimentos têm apenas cerca de 10 mil litros de combustível restantes, enquanto pelo menos 60 mil litros são necessários para despachar os suprimentos limitados de alimentos que estão atualmente disponíveis em Mekelle.

“Várias organizações da ONU e não governamentais serão forçadas a cessar suas operações caso suprimentos humanitários, combustível e dinheiro não sejam entregues a Tigré muito em breve”, advertiu Dujarric.

A equipe humanitária da ONU relatou que as pessoas continuam a ser deslocadas, incluindo de Afar, Amhara e da zona oeste de Tigré. “As pessoas também estão voltando, junto com as pessoas que precisam de comida, água, saneamento e abrigo”, disse o porta-voz da ONU. “Nossos parceiros continuam a trabalhar com as autoridades para garantir que os retornos sejam bem planejados, voluntários e dignos e que os retornados tenham o apoio adequado”.

Enquanto isso, apesar dos desafios, as organizações de ajuda continuam a fornecer assistência crítica. Em Amhara, mais de 33 mil pessoas receberam abrigo e outros tipos de ajuda durante a semana passada, o que, segundo Dujarric, eleva o número total de pessoas ajudadas a 586 mil.

No entanto, embora a distribuição de alimentos continue no norte, ela permanece bem abaixo dos níveis exigidos. “Apelamos urgentemente a todas as partes para permitir o acesso desimpedido e sustentado às pessoas em Tigray, Amhara e Afar”, concluiu o funcionário da ONU.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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