Especialista em genocídio da ONU adverte para piora da situação de segurança na Nigéria

Alice Nderitu destacou o ataque aéreo que matou ao menos 40 pastores, principalmente da etnia fulani, com dezenas de civis feridos

A conselheira especial da ONU para a Prevenção do Genocídio disse na quinta-feira (2) que está preocupada com o agravamento da situação de segurança na Nigéria. Ela instou as autoridades a garantir que as operações antiterroristas sejam conduzidas de acordo com os direitos humanos internacionais e o direito humanitário. 

Alice Nderitu expressou sua mais forte condenação pelo ataque aéreo de 24 de janeiro, no qual pelo menos 40 pastores, principalmente da etnia fulani, foram mortos e dezenas de outros civis ficaram feridos. 

O incidente ocorreu em um vilarejo na fronteira de dois Estados, Nasarawa e Benue. Ela lembrou que outro ataque aéreo em 2017 resultou em 54 vítimas civis em um acampamento para deslocados no estado de Borno. 

Nderitu se disse particularmente preocupada com a situação nas regiões Noroeste e Centro-Norte da Nigéria, onde ocorreram os ataques aéreos.  

Tropas do exército da Nigéria em ação contra o ISWAP, facção do Estado Islâmico, janeiro de 2022 (Foto: reprodução/Twitter)

“Essa dinâmica de atingir as comunidades ao longo das linhas de identidade, se não for abordada, corre o risco de alimentar ainda mais as tensões intercomunitárias, o recrutamento por grupos armados e os ataques de retaliação, com impacto óbvio nos civis”, acrescentou ela. 

A conselheiro especial disse que o agravamento da situação de segurança na Nigéria é caracterizado pela politização da transumância, o movimento sazonal de gado para pasto e o aumento das divisões entre as comunidades, inclusive com base na estigmatização ao longo de linhas religiosas e étnicas. 

“Neste ambiente extremamente volátil, é importante que as eleições gerais marcadas para 25 de fevereiro de 2023 não desencadeiem violência e até mesmo crimes de atrocidade”, ela avisou. 

Nderitu também sublinhou a preocupação com as tendências crescentes de discurso de ódio ao longo das linhas de identidade e incitação à discriminação, hostilidade ou violência que permeia o discurso político no país. E pediu a todos os líderes políticos que cumpram o acordo de paz que assinaram, que inclui o compromisso com campanhas pacíficas.   

Os líderes religiosos e tradicionais também foram encorajados a trabalhar para apaziguar as tensões, prevenir o incitamento à violência e abordar o risco de crimes atrozes antes das eleições e depois. 

Além da Nigéria, Nderitu expressou preocupação com a manipulação da transumância no discurso político, em toda a África Ocidental e na vasta região do Sahel. 

“Os altos níveis contínuos de violência contra as comunidades em relação à transumância, inclusive com discurso de ódio e incitação à violência, são particularmente preocupantes em vista das próximas eleições em muitos países da região”, disse ela.  

A funcionária da ONU apelou para uma ação urgente para resolver os conflitos, prevenir crimes e permitir a realização de eleições pacíficas.  

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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