Uma estudante nigeriana foi brutalmente assassinada na semana passada no Estado de Sokoto, no noroeste do país. Ela teria sido morta, e o corpo teria sido queimado por blasfêmia, em um episódio que agrava as tensões religiosas na nação africana, de maioria muçulmana. As informações são da ONG Human Rights Watch (HRW).
Segundo a imprensa local, Deborah Samuel foi perseguida e morta por criminosos não identificados após ter enviado a colegas de classe uma mensagem no aplicativo de mensagens WhatsApp em que teria insultado a principal figura religiosa do islamismo, vista como profeta por seus seguidores.
Diversos vídeos que viralizaram na internet mostram homens armados com paus batendo no corpo ensanguentado e aparentemente sem vida de uma mulher, que supostamente seria o da estudante. As imagens ainda mostram jovens comemorando. Entre eles, um homem com uma uma caixa de fósforos em mãos diz que usou o objeto para incendiar a vítima.

Dividida entre um sul católico, mais rico, e um norte muçulmano e empobrecido, a Nigéria teve nessa divisão a raiz de conflitos perenes. Há cerca de 250 grupos étnicos espalhados pelo país, de 195 milhões de habitantes.
Se por um lado a constituição nigeriana garante o direito à liberdade de expressão, pensamento e consciência, de outro, a lei penal do país criminaliza qualquer ato que configure insulto à religião. A Sharia, ou lei islâmica, aplicável nos 12 estados do norte do país, incluindo Sokoto, criminaliza a blasfêmia, que pode levar à pena de morte.
Acusações de blasfêmia na Nigéria muitas vezes desencadeiam revolta popular antes mesmo de as autoridades tomarem conhecimento. Na história do país há inúmeros assassinatos e linchamentos por suposta heresia contra o Islã.
A diplomata e política nigeriana que atua como a quinta secretária-geral adjunta das Nações Unidas, Amina J. Mohammed, se manifestou sobre a morte de Deborah no Twitter. “A justiça deve ser feita pelo assassinato brutal e sem sentido da jovem Deborah Samuel na Nigéria. As religiões não devem ser mal interpretadas para pregar a violência quando promovem a paz”, escreveu.
Justice must be done for the senseless, brutal killing of the young, Deborah Samuel in Nigeria.
— Amina J Mohammed (@AminaJMohammed) May 16, 2022
Religions should not be misinterpreted to preach violence when they promote peace.
My prayers are with the family and for the repose of her soul.
Anulação da lei de blasfêmia
Na visão da HRW, urge a necessidade de parlamentares nigerianos introduzirem leis para revogar a legislação de blasfêmia do país, que é inconsistente com a lei internacional de direitos humanos da qual a Nigéria faz parte.
“As autoridades devem investigar completamente e processar adequadamente todos os responsáveis pelo assassinato de Samuel e enviar uma mensagem clara de que os assassinatos em massa não têm lugar na Nigéria, qualquer que seja sua justificativa”, declarou a ONG.