Acordo histórico mediado pela Turquia reduz a tensão entre Etiópia e Somália

Um dos principais pontos do acordo estabelece que a Etiópia terá acesso ao litoral somali para utilizar portos marítimos, porém, sob a jurisdição soberana de Mogadíscio

Após quase um ano de tensões diplomáticas e militares, os líderes da Etiópia e da Somália firmaram um acordo considerado histórico para resolver suas diferenças. As negociações ocorreram na quarta-feira (11) em Ancara, na Turquia, sob mediação do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. As informações são da Deutsche Welle.

O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, e o presidente somali, Hassan Sheikh Mohamud, participaram das discussões, que se estenderam por oito horas. Foi o terceiro encontro entre os dois líderes, já que as rodadas anteriores não haviam produzido resultados concretos.

Porto de Berbera, na Somalilândia (Foto: WikiCommons)

A disputa teve início em janeiro, quando a Etiópia, país sem saída para o mar, firmou um acordo com a região separatista da Somalilândia, uma república separatista autodeclarada no noroeste da Somália, para arrendar parte do litoral somali. O objetivo era construir um porto e uma base militar em troca de reconhecimento oficial da Somalilândia como entidade independente.

A Somália, entretanto, considerou o movimento uma violação de sua soberania. A discordância escalou para um impasse diplomático e militar, com preocupações crescentes de que o conflito pudesse desestabilizar ainda mais a região do Chifre da África.

O catalisador para o conflito foi a obsessão de Abiy em tornar a Etiópia um Estado costeiro. No ano passado, ele declarou que a Etiópia não poderia permanecer sem litoral e deveria ter acesso ao mar, seja por negociação ou pela força.

A Somália, o mais fraco dos cinco países costeiros que fazem fronteira com a Etiópia, era o alvo óbvio. Em 1º de janeiro, Abiy assinou devidamente um memorando de entendimento com o presidente da Somalilândia. Em troca do reconhecimento oficial da Somalilândia, a Etiópia ganharia uma base naval de 12 milhas no Golfo de Áden.

Os termos do acordo

Conforme comunicado divulgado pela Turquia, os dois países comprometeram-se a trabalhar juntos em acordos bilaterais e comerciais. Um dos principais pontos do pacto é assegurar o “acesso confiável, seguro e sustentável” da Etiópia ao mar, sob a jurisdição soberana da República Federal da Somália.

Ficou estabelecido que as negociações técnicas para implementar esses termos começarão até o final de fevereiro de 2025 e serão concluídas em um prazo de quatro meses. A Turquia poderá atuar como mediadora para resolver possíveis divergências durante o processo.

Declarações das lideranças

Abiy Ahmed destacou que o acordo resolve “os mal-entendidos que ocorreram no último ano” e classificou o desejo da Etiópia de acesso ao mar como um “empreendimento pacífico” que beneficiará ambas as nações. Ele também enfatizou a importância da cooperação, afirmando que as conversas permitem que os dois países iniciem o próximo ano com uma perspectiva de amizade e colaboração.

Mohamud afirmou que o acordo “pôs fim às diferenças” e ressaltou a disposição da Somália em trabalhar com a Etiópia para garantir a estabilidade e o progresso na região.

Erdogan descreveu o desfecho como um marco positivo, expressando confiança de que a Somália dará apoio às demandas etíopes por acesso ao mar.

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