EUA denunciam crimes de guerra e crimes contra a humanidade na Etiópia

Relatório diz que as partes do conflito em Tigré cometeram assassinato, estupro, perseguição, deportação ou transferência forçada e limpeza étnica

Crimes de guerra e crimes contra a humanidade foram cometidos por todas as partes envolvidas no conflito no norte da Etiópia, que teve início em Tigré e se estendeu por outras regiões do país. Um cessar-fogo foi acordado em novembro do ano passado, e somente agora foi possível investigar e confirmar as atrocidades, de acordo com o Departamento de Estado norte-americano.

“A Etiópia está agora emergindo de dois anos de um conflito brutal no norte, durante o qual todas as partes cometeram atrocidade”, disse o órgão governamental em comunicado. Agora que “os combates pararam”, acrescenta o texto, “os abusos dos direitos humanos no norte da Etiópia diminuíram significativamente”.

A denúncia recai sobre as forças armadas da Etiópia e da Eritreia, país vizinho que apoiou o governo etíope durante o conflito. Também atinge as milícias de oposição, quais sejam a TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), partido político com um braço armado que atua em Tigré, e as forças rebeldes da região vizinha de Amhara.

Soldado do exército da Etiópia em treinamento (Foto: Facebook/FDRE Defense Force)

“Reconhecer formalmente as atrocidades cometidas por todas as partes é um passo essencial para alcançar uma paz sustentável. Os maiores responsáveis ​​pelas atrocidades, incluindo aqueles em posições de comando, devem ser responsabilizados”, afirmou o Departamento de Estado.

Entre os crimes citados no relatório estão assassinato, estupro e outras formas de violência sexual, perseguição, deportação ou transferência forçada e limpeza étnica. Todos apurados “após uma análise cuidadosa da lei e dos fatos”, de acordo com o texto.

Washington informa ainda que vai apoiar o governo central da Etiópia no processo de transição no norte do país para que a paz seja respeitada.

“Como discuti com ambos os lados durante minha visita, para construir uma paz duradoura, deve haver reconhecimento das atrocidades cometidas por todas as partes, bem como responsabilidade, juntamente com a reconciliação”, disse o secretário de Estado Antony Blinken, de acordo com a rede CNN.

Por que isso importa?

A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, esteve imersa em conflitos por dois anos desde novembro de 2020, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF às forças de segurança nacionais da Etiópia.

Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho de 2021, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle.

Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército da aliada Eritreia também deixaram de ser vistos por lá. Posteriormente, com o avanço dos rebeldes, que chegaram às regiões vizinhas de Amhara e Afar, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Durante o conflito, a TPLF se aliou ao OLA (Exército de Libertação Oromo, da sigla em inglês), que em 2020 se desvinculou do partido político homônimo e passou a defender de maneira independente a etnia Oromo, a maior da Etiópia.

A coalizão passou a superar o exército nos confrontos armados e chegou a ameaçar rumar para a capital, sem sucesso. A situação estava relativamente calma em 2022 até agosto, quando nos confrontos eclodiram. Três meses depois, um cessar-fogo foi firmado, e os rebeldes começaram a depor suas armas.

Acredita-se que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido no conflito, com milhões de deslocados das regiões de Tigré, Amhara e Afar.

Tags: