Filha de jornalista argelino detido na véspera de Natal pede sua libertação

El Kadi foi detido dias após publicar um artigo em que denunciava a influência das Forças Armadas nas eleições presidenciais de 2019

A filha do proeminente jornalista argelino Ihsane el-Kadi pede a libertação do pai, preso em 24 de dezembro, dias após publicar um artigo sobre o papel do exército nas eleições presidenciais. El-Kadi, notório crítico do governo, foi levado sob custódia acusado de apoiar organizações que ameaçam o Estado e a segurança da Argélia. As informações são jornal britânico Guardian.

Tin-Hinane el-Kadi pediu a libertação imediata do pai. “Não há absolutamente nada no caso que possa justificar a prisão preventiva”, disse ela, que acrescentou: “Ele não é um criminoso perigoso e não pode fugir porque [as autoridades] já confiscaram seu passaporte”.

A prisão preventiva foi prorrogada no domingo (15) sem a presença de seus advogados. A defesa do jornalista irá apresentar um recurso a um juiz na quarta-feira (18).

Ihsane el-Kadi foi detido por policiais à paisana perto de sua casa em 24 de dezembro (Foto: Radio M/Reprodução)

Tin-Hinane el-Kadi acusa o Estado de submeter seu pai a uma “intimidação e assédio inigualáveis”, num ato descrito por ela como “o culminar de anos de intensificação da pressão das autoridades contra qualquer dissidência”.

A prisão gerou reações de organizações de direitos humanos e da imprensa, reunidas pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), incluindo o ganhador do Prêmio Nobel da Paz, o russo Dmitry Muratov. No entanto, não houve manifestações de governos ocidentais que mantêm laços econômicos com Argel por conta das vastas reservas de energia do país africano. Particularmente pelas suas reservas de gás natural, com dutos que conectam à Europa, onde a palavra de ordem é reduzir a dependência da Rússia.

Um colega de El-Kadi, que falou sob condição de anonimato, disse que “Argel tem sido muito bem-sucedida em silenciar qualquer crítica”. Amigos e simpatizantes do jornalista preso se dizem decepcionados com a falta de apoio externo, que observadores atribuem ser, em parte, consequência da guerra na Ucrânia e da crise energética no continente europeu.

Na visão de analistas ouvidos pelo Guardian, os altos preços pagos pelo petróleo e gás argelinos encheram os cofres do governo, o que encorajou políticos e os generais do exército que detêm o poder “a acreditar que podem subornar qualquer oposição ao seu regime cada vez mais autoritário”.

Além disso, as autoridades fecharam a rede de rádio e o jornal diário que Kadi fundou, Radio M e Maghreb Emergent, respectivamente. Os veículos pertenciam a uma seleta lista de meios de imprensa independentes ainda na ativa na Argélia. O país está classificado em 134º entre 180 países no índice de liberdade de imprensa divulgado em maio do ano passado pela RSF.

A repressão na Argélia ganhou força após a chegada ao poder de  Abdelmadjid Tebboune, eleito no pleito de 2019 que foi marcado por boicote de milhões de eleitores. Atualmente, há 200 ou mais presos políticos atrás das grades, a grande maioria ligada ao movimento Hirak, o principal motor dos protestos que se desenrolaram no país do norte da África a partir daquele ano. 

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