União Europeia recorre à África para substituir o gás da Rússia

Líderes europeus estão olhando para a África em busca de novos fornecedores. O continente possui grandes reservas de gás natural, mas alguns produtores enfrentam desafios de infraestrutura e segurança

Diante de um contexto que fez do gás natural um ponto de tensão na guerra econômica entre uma Moscou soterrada por sanções e a União Europeia (UE) às voltas com uma crise energética, tudo em meio ao conflito na Ucrânia, um novo projeto na costa da África, ainda em construção, gera a expectativa de um novo fornecedor de energia para os Estados-membros do bloco. As informações são da agência Associated Press.

Especialistas que observam um novo gasoduto do combustível fóssil na costa oeste africana, atualmente com 80% das obras concluídas, garantem que ele já está atraindo a atenção de líderes poloneses e alemães, ávidos por livrar suas nações da dependência do abastecimento russo.

A expectativa é a de que o projeto, que fica próximo às costas do Senegal e da Mauritânia, contenha cerca de 425 bilhões de metros cúbicos de gás, cinco vezes mais do que os alemães usaram em todo o ano de 2019. No entanto, não é nada que vá ocorrer a curto prazo, resolvendo assim a crise energética europeia desencadeada pela invasão russa ao território ucraniano.

Usina de gás na Argélia: dutos chegam à Europa, mas distribuição é um problema (Foto: Adam/Flickr)

Gordon Birell, executivo da multinacional britânica de petróleo e gás BP, co-desenvolvedores do projeto, diz que o desenvolvimento não deve começar até o final de 2023, mas “não poderia ser mais oportuno”, já que a Europa busca reduzir sua dependência na Rússia.

“Os eventos mundiais atuais estão demonstrando o papel vital que o gás natural pode desempenhar na sustentação da segurança energética de nações e regiões”, disse ele durante uma reunião da indústria de energia na África Ocidental em setembro.

Especialistas observam que as reservas de gás natural da África são numerosas, e que países como a Argélia já possuem dutos que conectam à Europa, porém, o grande empecilho são os desafios de infraestrutura e segurança enfrentado pelos produtores locais, impossibilitando o aumento as exportações de energia.

Mahfound Kaoubi, professor de economia e especialista em questões energéticas da Universidade de Argel ouvido pela rede Voice of America (VOA News), destaca que Argélia e Egito são os principais fornecedores de gás na África. Porém, nenhum dois tem capacidade de compensar o fornecimento de gás russo em solo europeu.

“A Rússia tem uma produção anual de 270 bilhões de metros cúbicos, o que é enorme”, disse Kaoubi. “A Argélia tem 120 bilhões de metros cúbicos, dos quais 70,50% são destinados ao consumo no mercado interno”, acrescentou.

Em busca de alternativas

A UE tem se esforçado para garantir fontes alternativas, em meio a desconfianças de seus líderes de que Moscou, que reduziu o fluxo de gás, esteja fazendo um jogo político para tentar aliviar os embargos do bloco contra o país em consequência da guerra. Os 27 países, cujos ministros de energia têm reunião marcada nesta semana para debater sobre um teto para o preço do gás, consideram a possibilidade de um corte russo completo e estão se preparando para tal.

O presidente do Senegal e líder da União Africana, Macky Sall, observa que é importante para a África lucrar com os projetos de gás, mas insta o continente a ficar ciente de que cerca de 600 milhões de africanos não têm acesso à eletricidade.

“É legítimo, justo e equitativo que a África, o continente que menos polui e está mais atrasado no processo industrial, explore seus recursos disponíveis para fornecer energia básica”, disse Sall durante discurso na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) no mês passado.

“Devemos melhorar a competitividade de sua economia (africana) e alcançar o acesso universal à eletricidade”, acrescentou Sall.

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