Investigação sugere crimes de guerra em ataques aéreos com drones turcos na Somália

Uma possível operação de combate ao Al-Shabaab terminou com a morte de 23 civis, entre eles 14 crianças, em 18 de março

Um ataque aéreo ocorrido na Somália, realizado com drones produzidos na Turquia, deixou 23 civis mortos, sendo 14 crianças, cinco mulheres e quatro homens. A operação, ocorrida no dia 18 de março, foi investigada pela ONG Anistia Internacional, que agora acusa o governo da nação africana de crimes de guerra.

“Os governos da Somália e da Turquia devem investigar estes ataques mortais como um crime de guerra e pôr fim aos ataques imprudentes contra civis”, afirmou Tigere Chagutah, diretor regional da Anistia para a África Oriental e Austral. “Na Somália, os civis têm suportado com frequência elevada o peso do sofrimento na guerra. Estas mortes horríveis não devem ser esquecidas. Os sobreviventes devastados e as suas famílias merecem verdade, justiça e reparações.”

Drone turco Bayraktar modelo TB2, em dezembro de 2019 (Foto: Wikimedia Commons)

Segundo testemunhas, os militares realizaram o ataque à vila de Bagdá, na região de Lower Shabelle, na sequência de um violento confronto entre as forças de segurança e extremistas do Al-Shabaab, grupo terrorista associado à Al-Qaeda.

Depois do confronto entre insurgentes e militares, muitos civis buscaram abrigo em uma fazenda nas proximidades, mas o local acabou atingido pelo bombardeio em dois ataques consecutivos.

Os investigadores da ONG ouviram 12 pessoas e também analisaram diversas outras evidências, como imagens de satélite, relatórios médicos, fotos de vítimas, vídeos e fragmentos de armas. Assim, concluíram que o ataque foi realizado com drones Bayraktar modelo TB2, produzidos na Turquia.

No dia seguinte ao da operação, o Ministério da Informação da Somália disse em comunicado que havia matado mais de 30 militantes do Al-Shabaab em coordenação com “parceiros internacionais”, sem citar nomes. Os alvos seriam as aldeias de Bagdá e Baldooska.

“A operação foi lançada em resposta a relatórios de inteligência indicando que combatentes do Al-Shabaab estavam se reunindo nessas áreas e planejando um ataque contra o povo somali. Quinze membros do Al-Shabaab foram mortos num ataque aéreo em Bagdá”, dizia o texto.

A investigação da Anistia não foi capaz de determinar quem operava os drones. Entretanto, a ONU (Organização das Nações Unidas) havia afirmado em 2022 que os veículos aéreos não tripulados vinham sendo controlados pela Turquia, que não os entregou ao governo somali devido a um embargo de armas imposto ao país africano.

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