Fundamentais para conter as forças russas, drones turcos ganham fama na Ucrânia

Fundamental para o exército ucraniano, drone Bayraktar vira tema de música e dá nome a animais de estimação, desde cães até um um lêmure

Eles se tornaram tema de uma música agora popular entre os ucranianos. Têm dado nome a animais de estimação, desde cachorros até um lêmure. Ganharam elogios até de políticos ocidentais. São os drones turcos Bayraktar TB2, arma de maior destaque do exército da Ucrânia para conter os avanços das tropas russas na guerra. As informações são da rede CNN.

Uma figura pública que elogiou o armamento foi o secretário de Defesa britânico Ben Wallace. Em conversa com os legisladores locais, ele afirmou que os drones estão “entregando munições” à “artilharia russa e suas linhas de suprimentos”.

Para a população ucraniana, o Bayraktar é uma espécie de herói de guerra e virou tema de uma música que diz: “Esses tanques brilhantes estão sendo incendiados. Bayraktar, essa é a nova mania”. No zoológico de Kiev, um lêmure recém-nascido ganhou o nome do armamento, bem como um cachorro da polícia da capital ucraniana.

O modelo TB2 é um drone de média altitude e longa autonomia, bastante usado pelas forças turcas na guerra da Síria desde 2014. Ele é sido como responsável por equilibrar os conflitos na Líbia e em Nagorno-Karabakh, região disputada por Azerbaijão e Armênia.

Drone turco Bayraktar modelo TB2, em dezembro de 2019 (Foto: Wikimedia Commons)

De acordo com Samuel Bendett, do think tank Centro de Análises Navais da Rússia (CNAS), os drones não garantem apenas o sucesso militar. Estão ligados também ao marketing de guerra, pois “fazem parte da campanha de mídia social ucraniana que é executada muito bem pelos militares e civis ucranianos”. Isso, segundo ele, é “uma grande vitória tática” e dá “um grande impulso moral” às tropas.

Curiosamente, a Turquia, sede da fabricante do drone, mantém relações cordiais com Ucrânia e Rússia, o que leva o país a abordar o tema com cautela. Antes mesmo da invasão, Moscou vinha contestando Ancara por vender o armamento a Kiev. O porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov chegou a alertar, no final de 2021, que o Bayraktar poderia ter um impacto “desestabilizador” na região.

Quando confrontada pelo governo russo, a Turquia lavas a mãos. Um político turco do alto escalão disse na semana passada que a questão não diz respeito ao governo. “Eles (russos) costumavam reclamar antes e estão reclamando agora. Mas já demos a resposta. [Os drones] são [de] uma empresa privada, e essa compra foi feita antes da guerra”.

Genro do presidente

O drone é produzido pela empresa Baykar Technologies e leva o nome da família do engenheiro Selcuk Bayraktar, que chefia o departamento de tecnologia da companhia. Genro do presidente Recep Erdogan, ele se diz feliz com o papel que seu aparato tecnológico tem desempenhado na guerra. “Acho que é um dos símbolos de resistência, dá esperança a eles (ucranianos)”, afirmou Bayraktar.

Ao comentar o conflito, o engenheiro indica que reprova a agressão russa. “As pessoas estão resistindo e defendendo sua pátria de uma ocupação ilegal. Se você quer independência, você tem que ser capaz de se levantar e resistir. E acho que foi isso que o corajoso povo da Ucrânia e sua liderança fizeram”.

Nos últimos 18 meses, a Baykar assinou contrato para vender o drone a 19 países. Entre as nações que integram a União Europeia (UE) e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), somente a Polônia está na lista. A Ucrânia foi pioneira na aquisição do armamento e já encomendou 36 unidades até agora, de acordo com o Ministério da defesa do país.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que sufocam a economia russa, o país tem se tornado um pária global.

As acusações de crimes de guerra também se acumulam. Tropas russas são suspeitas de bombardear uma maternidade, escolas, hospitais e inúmeras edificações que eram usadas para abrigar civis tentando escapar dos bombardeios.

Na cidade ucraniana de Bucha, os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados três dias após a retirada do exército russo. Imagens de agências de notícias mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do tronco, um indício de execução, e corpos parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

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