Jihadistas de Moçambique sequestraram 51 crianças em 2020, diz organização humanitária

Sequestros já são vistos como tática de guerra comum em Cabo Delgado, região imersa em violência extremista desde 2017

Os grupos jihadistas de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, sequestraram 51 crianças em 2020. Em relatório, a organização humanitária Save The Children apontou que é cada vez mais comum usar tal crime como “tática de guerra”.

Uma investigação indica que as crianças sequestradas são vítimas de violência sexual e casamento precoce. Muitas são usadas como combatentes ao lado dos extremistas, que lutam para dominar a região rica em gás natural.

A maioria teria sido raptada durante as ofensivas violentas contra comunidades de Cabo Delgado, como o ataque a Palma, em março. Com centenas de desaparecidos, fica difícil precisar quem foi morto e quem está sob a mira dos sequestradores. Por isso, a entidade estima que o número de crianças raptadas seja ainda maior.

Jihadistas de Moçambique sequestraram 51 crianças em 2020, aponta Save the Children
Crianças refugiadas brincam em alojamento do Unicef em Metuge, Moçambique, dezembro de 2020 (Foto: Unicef/Mauricio Bisol)

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha registrou mais de 2,6 mil apelos de pessoas que perderam familiares para os jihadistas – especialmente crianças e adolescentes – entre setembro de 2020 e abril de 2021.

Ainda assim, o número de crianças raptadas pelos extremistas desde 2017, quando a insurgência jihadista se intensificou em Cabo Delgado, ainda é incerto. A violência gerada pelos grupos armados já forçou o deslocamento de mais de 700 mil civis.

“Desacompanhadas, essas crianças tornam-se extremamente vulneráveis a todos os tipos de abusos e exploração”, disse James Matthews, chefe da missão da Cruz Vermelha em Maputo.

Crime de guerra

A ONU (Organização das Nações Unidas) colocou o sequestro de crianças entre as seis violações graves em tempos de conflito. “Essa experiência tem um impacto imediato e duradouro para a vida de meninos e meninas”, disse Mohamed Malick Fall, diretor do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) na África Oriental.

Segundo ele, a situação dos menores em Cabo Delgado é “mais que precária”. A ONU busca mais acesso à área para confirmar denúncias de estupro, homicídio e mutilação.

Além de Moçambique, outros 20 países em conflito registram o sequestro de dezenas de milhares de crianças. Na sua maioria, as crianças atuam como soldados e acabam expostas a níveis extremos de violência.

No Brasil

Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino. Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos. Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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