Mais de 11 mil crianças cruzaram sozinhas o Mar Mediterrâneo neste ano, diz Unicef

Número de menores desacompanhados que fazem a perigosa rota migratória para Itália aumentou em 60%, segundo agência da ONU

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Mais de 11,6 mil crianças cruzaram o Mar Mediterrâneo Central para a Itália sem parentes ou responsáveis legais entre janeiro e meados de setembro de 2023. 

Segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), o total representa um aumento de 60% em relação ao mesmo período do ano passado, quando cerca de 7,2 mil crianças desacompanhadas ou separadas fizeram a perigosa travessia.

Lampedusa, uma pequena ilha no sul da Itália, é muitas vezes o primeiro porto de chegada para as pessoas que procuram asilo, segurança e oportunidades na Europa. O número de entradas atingiu um pico neste mês, com 4,8 mil pessoas chegando em um único dia.

De acordo com o Unicef, as crianças que realizam essas jornadas sozinhas são frequentemente colocadas em botes infláveis superlotados ou barcos de pesca de madeira de má qualidade, inadequados para as más condições climáticas. 

Migrantes e refugiados recebidos pelas equipes da Acnur em Malta, 2016 (Foto: Acnur/Giuseppe Carotenuto)

Alguns menores são colocados no porão do navio, outros em barcas de ferro particularmente perigosas para a navegação. 

A falta de capacidades de busca e salvamento coordenadas e adequadas a nível regional e de cooperação no mar agravam os perigos que as crianças enfrentam quando atravessam.

A diretora regional do Unicef para a Europa e Ásia Central, Regina De Dominicis, disse que “o Mar Mediterrâneo se tornou um cemitério para as crianças e para o futuro delas”. Para a representante, o alto número de crianças que buscam asilo e segurança na Europa “é resultado de escolhas políticas e de um sistema migratório falido.”  

Motivos para fugir

A guerra, os conflitos, a violência e a pobreza estão entre os principais fatores que fazem com que as crianças fujam sozinhas dos seus países de origem. 

As evidências mostram que as crianças desacompanhadas correm o risco de exploração e abuso em todas as etapas da jornada, sendo as meninas e crianças da África Subsaariana as mais propensas a sofrer vários tipos de violência.

Segundo dados da Organização Internacional para Migrações (OIM), entre junho e agosto deste ano, pelo menos 990 pessoas, incluindo crianças, morreram ou desapareceram quando tentavam atravessar o Mar Mediterrâneo Central. Esse número equivale ao triplo dos óbitos no verão passado na região. 

Muitos naufrágios não deixam sobreviventes, e diversos casos não são registrados, tornando o número real de vítimas provavelmente muito maior.

Em conformidade com o Direito internacional e a Convenção sobre os Direitos da Criança, o Unicef apela aos governos para que proporcionem vias mais seguras e para a obtenção de asilo.

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