A rápida progressão dos rebeldes do M23 no leste da República Democrática do Congo (RDC) aumentou a sensação de insegurança em Kinshasa, onde crescem rumores sobre um possível golpe contra o presidente Felix Tshisekedi. Enquanto o governo insiste que o Exército mantém o controle, o pânico se espalha pela capital, levando diplomatas a reforçarem a segurança e membros da elite política a prepararem a fuga de suas famílias. As informações são da agência Reuters.
A tomada de Goma, maior cidade do leste congolês, no final de janeiro, e a entrada de combatentes rebeldes em Bukavu expuseram a fragilidade das tropas governamentais. Mesmo diante das evidências, o gabinete de Tshisekedi declarou que Bukavu continua sob controle do Exército e de “aliados valentes”, o que gerou perplexidade entre militares no terreno. “Nunca houve dúvida de que os ruandeses e seus auxiliares entrariam”, afirmou um general, criticando a desconexão do presidente com a realidade.

O clima de apreensão em Kinshasa se intensificou nas últimas semanas. Embaixadas passaram a usar veículos blindados para deslocamentos e a enviar parte de suas equipes para Brazzaville, do outro lado do rio Congo. Três autoridades do governo central confirmaram que estão organizando a transferência de suas famílias para fora do país. O banqueiro Matondo Arnold já tomou essa decisão após a queda de Goma: “Nunca imaginamos que Goma poderia cair”, disse.
Diante do avanço do M23, o Exército congolês tentou conter o medo entre os moradores, negando rumores sobre a presença de rebeldes ou soldados ruandeses na capital. “Evitem ver ruandeses em todos os lugares”, alertou um comunicado militar, pedindo que a população denuncie qualquer movimentação suspeita sem fomentar discriminação.
Os rumores de um golpe ganharam força após o ministro da Justiça, Constant Mutamba, declarar que o povo congolês “não aceitará um golpe que envolva o Exército ruandês para desestabilizar as instituições do país”. Porém, mesmo aliados de Tshisekedi reconhecem o ambiente de pânico. “Sim, é um caos. Algumas pessoas estão desesperadas e buscam apoio de embaixadas”, admitiu um membro de sua coalizão.
Tshisekedi ainda enfrenta críticas pela ausência em encontros regionais sobre o conflito. Ele ignorou duas reuniões promovidas por líderes africanos e preferiu participar da Conferência de Segurança de Munique, onde acusou o ex-presidente Joseph Kabila de financiar a ofensiva do M23. A oposição reagiu com sarcasmo. “O fato de um presidente africano desprezar a União Africana (UA) e priorizar um evento europeu mostra quem o sustenta”, disse um ex-funcionário do governo.
Entre seus opositores, cresce a convicção de que Tshisekedi não permanecerá no poder por muito tempo. “Sua falta de legitimidade está provada, tornando-o cada vez menos ouvido e mais rejeitado pela população”, afirmou Olivier Kamitatu, porta-voz do político Moïse Katumbi. Martin Fayulu, segundo colocado nas eleições de 2018, foi ainda mais incisivo: “Tshisekedi não entendeu os problemas do país e da região. Ele não tem preparo intelectual para liderar o Congo”.