ONU confirma que um de seus helicópteros foi sequestrado pelo Al-Shabaab na Somália

Aeronave teve que fazer um pouso de emergência em uma área controlada pelo grupo extremista vinculado à Al-Qaeda

A Missão de Assistência das Nações Unidas na Somália (UNSOM) confirmou na quarta-feira (10) que um helicóptero a serviço da entidade foi sequestrado ao realizar um pouso de emergência na região central do país africano. A aeronave teria sido obrigada a parar em uma área controlada pelo grupo terrorista Al-Shabaab.

A Agência Nacional de Notícias da Somália (SONNA) afirmou através da rede social X, antigo Twitter, que uma missão de resgate foi formada. O número de pessoas a bordo varia conforme a fonte de informação, mas foi confirmado que há estrangeiros entre as vítimas.

De acordo com a SONNA e com a rede CNN, oito pessoas estavam no helicóptero. Já a agência Reuters diz que uma fonte da ONU, que pediu anonimato, falou em nove passageiros, sendo cinco estrangeiros. A agência Al Jazeera também falou em nove pessoas a bordo, mas somente seis teriam sido levadas. Ao menos dois são cidadãos somalis.

O pouso forçado ocorreu devido a um problema mecânico identificado logo após a decolagem, e o incidente foi confirmado por Stephane Dujarric, porta-voz das Nações Unidas, segundo relatou a CNN.

Em seu site oficial, a UNSOM não deu maiores detalhes e emitiu uma manifestação vaga, dizendo apenas que a aeronave estava “realizando uma evacuação médica aérea.” Acrescentou que “está em processo de recolha de todas as informações relevantes” e que “os esforços de resposta estão em andamento.”

Um memorando interno da ONU, ao qual a Al Jazeera teve acesso, informou ainda que todos os demais voos da ONU foram suspensos temporariamente no país.

Helicóptero a serviço da ONU em Faro, Portugal, 2001 (Foto: Pedro Aragão/WikiCommons)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da UA. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques contra órgãos e oficiais do governo e entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Civis são frequentemente vitimados pelos atentados. Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano anterior na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de civis atingidos pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto de 2022, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Diante do sucesso da operação, o chefe de Estado traçou uma projeção otimista em 2023 e afirmou que o objetivo é derrotar completamente o grupo em 2024.

“Queremos eliminar o Al-Shabaab do país”, disse Mohamud durante reunião de governo. “Se não os eliminarmos completamente, talvez haja alguns bolsões com alguns Al-Shabaabs inofensivos que não poderão causar problemas.”

No Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”

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