Oposição no Quênia fala em genocídio e coleta provas para entregar ao TPI

Raila Odinga afirmou que coligação oposicionista levará evidências uso excessivo da força a Haia, e pedirá que o tribunal inicie um processo sobre o assunto

A coligação de oposição do Quênia anunciou na terça-feira (25) que irá levar ao Tribunal Penal Internacional (TPI) acusações por “atrocidades policiais” que resultaram em 30 mortes durante protestos recentes contra o aumento do custo de vida e a cobrança de novos impostos. As informações são da agência Associated Press.

Em coletiva de imprensa, o líder da oposição, Raila Odinga, afirmou que o país enfrenta estágios formativos de genocídio e perseguição política. Diante da situação, a frente formada pelos opositores está coletando evidências para serem submetidas ao TPI, buscando a abertura de um processo sobre o uso excessivo de força pelas mãos das autoridades policiais do país africano em meio a essa atmosfera de caos social.

Odinga declarou que estão sendo reunidos elementos para comprovar que pessoas pertencentes à comunidade étnica Luo, da qual faz parte, são especialmente visadas pelas autoridades. Durante os protestos, manifestantes dessa etnia foram internados no hospital com ferimentos causados por balas.

Raila Odinga lidera a oposição no país africano (Foto: WikiCommons)

O veterano político, que lidera a coligação Azimio la Umoja (“Resolução para a unidade”), acusou a polícia de demonstrar parcialidade e perseguir uma agenda étnica em certas regiões do país, enquanto aparentemente reprime as manifestações. Ele enfatizou que o posicionamento seletivo de policiais em áreas como Nairóbi reflete a intenção do Estado de perpetuar a limpeza étnica.

O ministro do Interior, Kithure Kindiki, rejeitou veementemente as alegações da oposição, descrevendo-as como “maliciosas, falsas e destinadas a distorcer a opinião pública”. Afirmou ainda que as forças policiais permaneceram “neutras, imparciais e profissionais”, acrescentando que um policial foi morto e mais de 300 outros ficaram feridos durante os protestos.

Nas últimas três semanas, o Quênia testemunhou protestos generalizados, com a população pedindo que o presidente William Ruto aborde o aumento do custo de vida e os novos impostos, que resultaram em um aumento no preço do combustível, devido ao aumento do imposto sobre produtos petrolíferos de 8% para 16%.

Odinga afirmou que os protestos continuarão, mas não especificou a data para o início da próxima onda de manifestações.

Inicialmente, a oposição convocou protestos para esta quarta-feira (26), mas posteriormente solicitou que seus apoiadores realizassem uma vigília pacífica em homenagem às 50 pessoas que, segundo eles, morreram em protestos nas últimas semanas.

Grupos de direitos humanos condenaram o uso de força excessiva pela polícia para dispersar os manifestantes, relatando que pelo menos 30 pessoas foram baleadas e mortas em protestos recentes.

O Quênia tem um histórico de protestos violentos, que resultaram em perda de vidas e danos à propriedade. Entre 2007 e 2008, a violência pós-eleitoral levou à formação de um governo de coalizão após a mediação de vários líderes entre os partidos opostos.

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