União Europeia e EUA pedem investigação para apurar massacre em Burkina Faso

Bloco destacou que mulheres e crianças estão entre as vítimas da violência, cujos responsáveis ainda não foram identificados

No dia 5 de novembro, quase cem pessoas foram mortas na vila de Zaongo, no centro-norte de Burkina Faso. A autoria do massacre, que ocorreu em meio à onda de violência decorrente dos confrontos entre as forças de segurança e grupos rebeldes armados, não está clara, o que levou a União Europeia (UE) e os EUA a pedirem que o caso seja investigado. As informações são da agência Associated Press (AP).

“A União Europeia apela às autoridades de transição para que esclareçam as circunstâncias destes assassinatos, a fim de determinar a responsabilidade”, diz comunicado divulgado pelo bloco europeu, que ainda manifestou “total solidariedade ao povo do Burkina Faso”, afirmando que os burquinenses são as “primeiras vítimas da contínua deterioração da situação de segurança no país.”

O governo norte-americano também condenou o ocorrido e instou as autoridades locais a “esclarecerem as circunstâncias” que levaram ao massacre, determinando assim “quem é o responsável.” Segundo a UE e Washington, mulheres e crianças estão entre as vítimas do massacre.

Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de grupos terroristas, insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e matou milhares de pessoas. Facções armadas lançam ataques ao exército e a civis, desafiando também a presença de tropas estrangeiras.

Os ataques costumavam se concentrar no norte e no leste, mas agora estão se alastrando por todo o país, com quase metade do território nacional fora do controle do governo central. Assim, Burkina Faso superou Mali e Níger como epicentro da violência jihadista na região.

Soldado do exército de Burkina Faso em treinamento, fevereiro de 2019 (Foto: nara.getarchive.net)

Após um período de relativa calmaria, a violência aumentou no último ano, após a tomada do poder no país por uma junta militar em janeiro de 2022. Oficiais descontentes derrubaram o presidente eleito Roch Marc Christian Kabore, que enfrentava protestos pela forma como combatia a sangrenta insurgência jihadista. Mais tarde, em setembro, um segundo golpe levou a nova mudança no poder, com o capitão Ibrahim Traoré assumindo o governo central. A instabilidade só faz crescer o problema da insurgência.

A situação tornou ainda mais delicada em 2023, após a França acatar um pedido do governo central burquinense e retirar suas tropas da nação africana. Paris mantinha entre 200 e 400 membros de suas forças especiais por lá, parte da Operação Barkhane de combate ao extremismo no Sahel.

Diante desse cenário de instabilidade e hostilidades constantes, não está claro se o massacre foi obra de um dos grupos armados que dominam determinadas áreas do país, entre eles facções de organizações terroristas como Estado Islâmico (EI) ou Al-Qaeda, ou se a responsabilidade é das forças do governo.

Dissidentes recrutados para lutar

No início de novembro, pouco após o massacre, a ONG Human Rights Watch (HRW) acusou a junta militar que recrutar dissidentes, entre eles jornalistas, ativistas e membros de partidos de oposição, para servirem às Forças Armadas em operações de segurança.

A “mobilização geral” seria parte de uma campanha do governo central para retomar territórios ocupados por jihadistas, com muitos cidadãos convocados para lutar mesmo contra sua própria vontade. Segundo a ONG, o objetivo central ao convocar os críticos é silenciá-los, o que configura uma violação dos direitos humanos.

“A junta de Burkina Faso está usando a legislação de emergência para silenciar a dissidência pacífica e punir os seus críticos”, disse Ilaria Allegrozzi, investigadora sênior da HRW para o Sahel. “O governo não deve responder aos grupos armados islâmicos abusivos com mais violações dos direitos humanos, mas deve, em vez disso, reforçar os esforços para proteger os civis e defender os direitos básicos à liberdade de expressão e de expressão.”

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