Zimbábue pós-Mugabe permanece refém de autoritarismo e corrupção

Povo vai às ruas da capital Harare desde julho e é recebido com ameaças de prisão do presidente Mnangagwa

O ditador do Zimbábue Robert Mugabe, deposto em 2017 e morto dois anos depois, aos 95 anos, deixou o poder mas garantiu a manutenção do status quo forjado ao longo de seus 37 anos no poder.

A população, em revolta pelas ruas da capital Harare, exige mudanças do atual presidente, Emmerson Mnangagwa, antigo chefe de espionagem de Mugabe. Entre os problemas, corrupção, inflação, fome e repressão a opositores são os mais evidentes.

Por ano, o país escoa US$ 1,8 bilhão nos ralos das atividades corruptas – o PIB (Produto Interno Bruto) local, para comparação, foi de US$ 30 bilhões em 2018. A informação foi levantada pela ONG Transparência Internacional e divulgada por veículos como o jornal local “The Independent“.

Zimbábue pós-Mugabe permanece refém de autoritarismo e corrupção
Um tanque na capital do Zimbábue, Harare, durante o golpe que derrubou Robert Mugabe após 37 anos no poder, em 2017 (Foto: Public Domain Images)

O mandatário, eleito em um pleito contestado em 2018, já informou a população que revoltas serão respondidas com a prisão imediata dos envolvidos.

O que levou o povo à ruas

A onda mais recente de protestos na antiga colônia britânica, independente desde 1980, começou após um escândalo de superfaturamento de itens de saúde, usados para o combate à pandemia.

O ministro da Saúde, Obadiah Moyo, deixou o cargo. Já o governo se encarregou de punir o jornalista responsável pela denúncia, Hopewell Chin’ono, que está preso desde 20 de julho.

O governo zimbabuano também prendeu mais de 100 mil pessoas por “violarem as regras do lockdown” no país.

Enquanto isso, médicos e enfermeiros não tinham acesso a equipamentos básicos de proteção. Os profissionais usaram de greves a processos judiciais para receber o básico para trabalhar, conforme relatou em abril a ONG HRW (Human Rights Watch).

Já a inflação bateu, até junho, a marca de 737,3%, informou a Bloomberg. O índice ainda está longe dos picos de 2008, quando seria preciso redigir o número em notação científica – 89,7 sextilhões de porcento, ou 21 zeros – mas o suficiente para gerar pobreza extrema e desabastecimento.

O ano de 2020 também terminará com seis em cada dez zimbabuanos passando fome. A informação é de um relatório do Programa Mundial de Alimentos da ONU (Organização das Nações Unidas), divulgado em julho.

A entidade estima um aumento de 50% na insegurança alimentar no país até dezembro, que atingirá quase nove dos 14,4 milhões de habitantes do Zimbábue.

Onde fica o Zimbábue (Foto: Reprodução/Google Maps)

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