O jornalista Hopewell Chin’ono foi preso nesta segunda (20) por incitar violência pública, após revelar um suposto esquema de corrupção no governo do Zimbábue, envolvendo a compra de suprimentos relacionados ao novo coronavírus.
De acordo com a BBC, Chin’ono estava fazendo uma transmissão ao vivo em uma rede social no momento da prisão. Antes de receber ordens para desligar o telefone, o jornalista conseguiu gravar parte da ação.
A reportagem de Chin’ono apontou para uma suposta fraude na aquisição de suprimentos ligados ao Covid-19 pelo Ministério da Saúde. O fornecimento de medicamentos teria custado US$ 60 milhões ao governo.
As alegações levaram à prisão e demissão do então ministro Obadiah Moyo. Segundo o presidente do Zimbábue, Emmerson Mnangagwa, a demissão ocorreu “por conduta inadequada”.
O político da oposição Jacob Ngarivhume também foi detido pelas mesmas alegações. Líder de um pequeno partido, Ngarivhume estaria organizando um protesto anti-governo no dia 31 de julho.
O Zimbábue vive um momento de crescente tensão. O país é atingido por hiperinflação e o aumento da insatisfação com o partido Zanu-PF, que lidera o país desde a independência dos britânicos, em 1980.
O jornalista denunciou sua prisão pelo Twitter, na segunda (20), mas a conta foi apagada na sequência. Chin’ono recebeu múltiplos prêmios por documentários e reportagens e foi bolsista nas universidades de Harvard (EUA) e Oxford (Reino Unido).
Pandemia
Segundo a BBC, desde março, mais de 105 mil pessoas foram presas no país por violarem medidas de restrição para evitar a propagação do Covid-19. Só nos últimos dois dias, foram realizadas cerca de mil prisões por “movimento desnecessário”.
Cerca de 30 pessoas serão levadas à corte por fugirem de instalações de quarentena patrocinadas pelo governo. De acordo com as regras, todos os cidadãos que chegam do exterior precisam permanecer três semanas nesses locais.
A polícia afirma que pretende intensificar os esforços para o cumprimento das medidas. Críticos acusam o governo de usar as medidas para atingir a oposição e prender ativistas.