Canadá e Índia anunciaram na segunda-feira (14) que seus principais diplomatas deixarão os dois países nos próximos dias, intensificando uma crise que inclui acusações de “homicídio, extorsão e atos violentos” por parte de Ottawa contra Nova Délhi.
A crise se instalou após o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau sugerir o possível envolvimento de autoridades indianas no assassinato do líder separatista sikh Hardeep Singh Nijjar, ocorrido na Colúmbia Britânica, no Canadá, em junho de 2023.
Autoridades canadenses disseram que agentes do governo indiano tiveram envolvimento com a operação, mas não deixaram claro se houve participação direta destas mesmas pessoas no assassinato de Singh.
A acusação por parte de Ottawa é ainda mais ampla, com seu governo dizendo que Nova Délhi tem relação com casos de “homicídio, extorsão e atos violentos” registrados em território canadense.

A crise atingiu seu ápice diplomático nesta segunda, quando a Índia anunciou que seis diplomatas canadenses, incluindo o alto comissário em exercício Stewart Ross Wheeler, terão que deixar o país até 19 de outubro. Paralelamente, Nova Délhi anunciou que estava “retirando” seu principal enviado e outros diplomatas do Canadá, de acordo com a rede BBC.
“Não temos fé no comprometimento do atual governo canadense em garantir sua segurança. Portanto, o governo da Índia decidiu retirar o alto comissário e outros diplomatas e oficiais visados”, disse Nova Délhi em comunicado.
A agência Associated Press (AP), entretanto, deu uma versão diferente ao dizer que os diplomatas indianos foram expulsos pelo Canadá.
“Lamentavelmente, como a Índia não concordou e dadas as preocupações contínuas com a segurança pública dos canadenses, o Canadá enviou notificações de expulsão a esses indivíduos. Após essas notificações, a Índia anunciou que retiraria seus funcionários”, disse a ministra das Relações Exteriores canadense Mélanie Joly.
EUA acusam a Índia
Em novembro de 2023, o Departamento de Estado norte-americano se colocou na disputa ao anunciar que registrou em Nova York um caso semelhante ao de Singh. Washington alegou que o governo da Índia teve ligação com uma tentativa de assassinato contra um separatista sikh em Nova York, com participação direta de um funcionário público indiano.
A acusação envolve não apenas o funcionário do governo não identificado, que teria atuado a partir do território indiano para orquestrar o assassinato de Gurpatwant Singh Pannun, segundo revelou a revista Newsweek. Outro envolvido na conspiração é Nikhil Gupta, que está preso República Tcheca, onde é alvo de um processo de extradição para o território norte-americano.
Gupta teria entrado em contato com um suposto aliado nos EUA, e este indicaria um assassino de aluguel para cometer o crime. O indivíduo que faria a conexão, entretanto, era na verdade um agente da polícia norte-americana infiltrado.
O governo indiano disse que leva a sério as acusações e que uma investigação foi estabelecida para “para analisar todos os aspectos relevantes da questão”.
Pannun, por sua vez, não poupou Nova Délhi. “O atentado contra a minha vida em solo americano é o caso flagrante do terrorismo transnacional da Índia, que se tornou um desafio à soberania dos EUA e uma ameaça à liberdade de expressão e à democracia, provando inequivocamente que a Índia acredita no uso de balas, enquanto os sikhs pró-Khalistão acreditam nas votações”, disse ele na ocasião.