Agências da ONU alertam para aumento ‘ininterrupto’ da fome no Haiti

Inflação crescente e os desastres recorrentes ameaçam colocar 45% dos haitianos em nível de fome severa nos próximos meses

Embora a assistência humanitária tenha sido bem-sucedida em sua meta de evitar uma catástrofe, o Haiti tem experimentado um aumento persistente nos níveis de fome, com muitos cidadãos sofrendo em nível agudo, disse na terça-feira (22) o PMA (Programa Mundial de Alimentos).

A agência da ONU alertou que 4,5 milhões de haitianos estão passando por altos níveis de insegurança alimentar aguda, em virtude da assistência alimentar humanitária abaixo do esperado e também das consequências contínuas do terremoto de agosto passado como os principais fatores.

“Os níveis de fome estão aumentando ininterruptamente à medida que a instabilidade política persistente, a inflação crescente e os desastres recorrentes continuam a conspirar contra o povo do Haiti”, afirmou a agência.

O diretor nacional do PMA, Pierre Honnorat, observou que a situação é preocupante, “sendo a pior registrada desde 2018”. Ele acrescentou: “O Haiti faz parte de um ‘anel de fogo’ que circunda o globo, onde choques climáticos, conflitos, Covid-19 e custos crescentes estão levando comunidades vulneráveis ​​ao limite”.

Comunidade da capital do Haiti, Port-au-Prince, recebem ajuda após terremoto em fevereiro de 2010 (Foto: Organização Internacional da Migração/Mark Turner)

De acordo com projeções recentes, 45% da população estará em fome severa de março a junho, com mais de 1,3 milhão na fase de emergência da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC).

A crise econômica em curso no Haiti, caracterizada por uma moeda enfraquecida em relação ao dólar americano, inflação em alta e um aumento nos preços dos combustíveis nos meses anteriores, reduziu o poder de compra de muitas famílias mais pobres, tornando inacessíveis itens básicos como alimentos.

Guerra afeta o Haiti

Além disso, os preços globais dos alimentos estão em alta, com a crise na Ucrânia continuando a ter um impacto direto na segurança alimentar. Os humanitários da ONU no Haiti alertam que provavelmente o conflito continuará a prejudicar pessoas vulneráveis ​​na nação insular altamente dependente de importações.

Honnorat lembrou que 70% das mercadorias nas lojas do Haiti são importadas e disse que “a situação só pode piorar se não apoiarmos o Haiti”. Ele alertou, ainda,. que a crise “alimenta a insegurança, a migração e a exploração sexual”.

“É tudo sobre esses mecanismos de enfrentamento que a população tem que seguir. E é diferente, eles têm que mudar a alimentação, têm que reduzir as refeições.. Mas também os leva à violência, também leva alguns deles à prostituição”, explicou o Honnorat.

Detalhando a situação no Haiti, Patrick David, gerente sênior de programas da FAO (Organização para Agricultura e Alimentação), falou mais sobre o impacto da crise na Ucrânia na perpetuação da insegurança alimentar. “O Haiti importa muitos alimentos e fertilizantes e o aumento dos preços desses produtos vai contribuir ainda mais para a inflação, que já é alta no país”, disse.

Honnorat acrescentou que o trigo que o Haiti importa “é principalmente vindo da Rússia e depois vindo do Canadá também. Então se a farinha de trigo estiver subindo, você verá um problema, e o preço já multiplicou por cinco em dois anos. Assim, só podemos esperar que ele se multiplique novamente”.

O PMA relatou uma melhora em áreas no sul do Haiti, atribuída à assistência alimentar contínua após o grande terremoto do ano passado. Em seu rescaldo, quase um milhão de pessoas ficaram gravemente em situação de insegurança alimentar nas áreas afetadas.

A região norte também está sofrendo com as consequências das fortes inundações no final de janeiro, que resultaram em mortos e feridos, com quase 3.500 pessoas buscando refúgio em abrigos temporários. O PMA distribuiu rações secas para oito mil pessoas afetadas pela enchente, bem como cerca de mil refeições prontas em cinco dias em seis abrigos.

Olhando para soluções de longo prazo para um país que continua lutando com múltiplas crises, o PMA disse que está fortalecendo a proteção social nacional e os sistemas alimentares usando transferências baseadas em direitos, atividades de geração de renda e soluções de redução de risco de desastres em nível comunitário.

Para acelerar o retorno às aulas e a retomada das atividades de alimentação escolar nas áreas afetadas pelo terremoto, os engenheiros do PMA também estão correndo contra o tempo para reabilitar as escolas.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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