Analistas contestam reeleição de Maduro e projetam mais seis anos de caos na Venezuela

Maduro celebrou a vitória com alegados 51% dos votos, mas oposição afirma que na verdade o seu candidato teve 70%

Há indícios de fraude nas eleições presidenciais da Venezuela, que no final de semana deram ao presidente Nicolás Maduro mais seis anos no comando do país. Esta é a opinião de quatro analistas ouvidos pelo think tank Atlantic Council, segundo quem o país sul-americano tende a enfrentar mais um período de caos sob o governo do autoritário líder.

“Votar não faz uma democracia – a contagem legítima e transparente dos votos sim”, diz artigo publicado pelo think tank, ante aos relatos de intimidação de eleitores e “outras irregularidades”, conforme governos estrangeiros cobram Maduro para realizar uma auditoria independente que analise o pleito.

Na segunda-feira (29), Maduro celebrou a vitória destacando os números divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), segundo o qual ele obteve 51% dos votos nas eleições nacionais.

A oposição venezuelana, entretanto, classificou o anúncio do CNE como fraudulento e contestou o resultado, afirmando que na verdade foi o seu candidato, Edmundo González Urrutia, quem venceu a eleição, com 70% dos votos.

Maduro em visita ao Brasil: reeleição contestada (Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto)

“Os votos devem ser contados de forma credível. Aqui, é imperativo que a comunidade internacional de democracias continue a denunciar veementemente a fraude e a tomar as medidas adequadas”, disse ao Atlantic Council Jason Marczak, especializado em questões latino-americanas.

Ao justificar seu argumento, Marczak cita as contestações ao resultado levantadas por diversos países, como Estados Unidos, Argentina, Chile, Panamá, Paraguai, Uruguai e Equador. “Mesmo na Colômbia, onde o presidente Gustavo Petro manteve um relacionamento próximo com Maduro, o ministro das Relações Exteriores Luis Gilberto Murillo fez um ‘apelo para que a contagem total dos votos, sua verificação e auditoria independente sejam realizadas o mais rápido possível'”, afirmou o analista.

Por sua vez, Geoff Ramsey, especializado nas relações políticas entre os EUA e os países da América Latina, projetou um futuro sombrio para a Venezuela sob novo governo de Maduro.

“Parece que Maduro decidiu condenar a Venezuela a mais seis anos de conflito e isolamento”, disse ele. “A menos que o governo confirme sua alegação de vitória com os resultados completos e abra a contagem para auditorias de observadores, a comunidade internacional não tem escolha a não ser responder com rápida condenação e pressão diplomática.”

Ramsey instou as nações ocidentais, sobretudo os EUA e seus principais aliados europeus, a pressionar o regime venezuelano para que respeite os resultados reais do pleito. Afirmou que a oposição, liderada por María Corina Machado, “tem as evidências em mãos para documentar a fraude e mobilizar o público contra a flagrante tomada de poder de Maduro.”

A pesquisadora Iria Puyosa foi outra a contestar a legitimidade de um novo governo de Maduro, afirmou que a coalizão governante está “vulnerável” e citou inclusive a posição do Brasil, que hesitou em aceitar o resultado.

Ela projetou, então, que o país tende a enfrentar tempos sombrios, afirmando que a coalizão liderada pelo presidente “provavelmente recorrerá a mais repressão contra a oposição política e a sociedade civil organizada”. E acrescentou: “O aumento da censura de informações na semana que antecede as eleições é um sinal claro da severa restrição do espaço cívico.”

Outro analista citado pelo Atlantic Council, Diego Area, afirmou que “o mundo deve apoiar os venezuelanos na sua luta por eleições livres” e que “ninguém pensou que seria fácil remover um autocrata do poder.”

Diferente dos colegas, destacou o lado positivo do pleito, citando a união da oposição para derrotar Maduro. E também projetou problemas para os cidadãos, ao avaliar que “as ações de Maduro para minar o processo democrático e roubar esta eleição representam consequências graves para o futuro do país.”

Area concluiu: “O mundo deve ficar com os venezuelanos em sua luta por um futuro em que as eleições não sejam meramente simbólicas, mas sejam caminhos reais para a mudança. A integridade do processo democrático é crucial não apenas para a estabilidade da Venezuela, mas também para a prosperidade de toda a região.”

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