EUA renovam sanções à Venezuela em meio à deterioração democrática do regime Maduro

Bloqueios petrolíferos de Washington diminuem as esperanças de eleições livres no país, marcadas para julho

O governo Biden reintroduziu sanções abrangentes sobre o petróleo venezuelano, desafiando os esforços de Nicolás Maduro para fortalecer seu governo. Isso ocorre apenas seis meses após os EUA relaxarem as restrições, visando apoiar o “otimismo”, agora em declínio, de uma transição democrática na nação da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). As informações são do The Guardian.

Sob condição de anonimato, uma fonte do alto escalão de Washington afirmou que qualquer empresa norte-americana investindo na Venezuela teria 45 dias para encerrar suas operações, visando evitar perturbações nos mercados globais de energia.

A reintrodução das sanções pode ter implicações profundas para o destino da frágil democracia venezuelana, sua economia e a migração na região. Segundo a fonte do governo norte-americano, que falou sob condição de anonimato por conta da sensível questão diplomática, afirmou: “Maduro e seus representantes não cumpriram plenamente o espírito ou a letra do acordo”.

Plataforma offshore do poço Perla 1X do Projeto Cardón IV, na Venezuela (Foto: Foto: Repsol/Flickr)

Outro alto funcionário que discutiu as sanções recém-restauradas destacou a “desqualificação de candidatos e partidos por questões técnicas, e o que vemos como um padrão contínuo de assédio e repressão contra figuras da oposição e da sociedade civil”.

Embora o alívio das sanções tenha expirado à meia-noite de quarta-feira (17), o funcionário afirmou que haverá um “período de liquidação de 45 dias para transações relacionadas às operações do setor de petróleo e gás”, a fim de evitar “incerteza no setor energético global”.

A situação ocorre em meio à atmosfera critica no país sul-americano dos últimos seis meses, em que o governo venezuelano tem impedido Maria Corina Machado, sua principal rival política, de registrar sua candidatura ou a de uma alternativa escolhida. Além disso, vários críticos do governo, incluindo assessores de Machado, foram presos.

A reintrodução das sanções efetivamente anula o acordo estabelecido em Barbados, tornando ilegal para empresas norte-americanas negociar com a empresa estatal de petróleo da Venezuela sem uma licença específica do Departamento do Tesouro dos EUA.

O impacto dessas medidas sobre a indústria de petróleo e gás da Venezuela, já em dificuldades, ainda não está claro, nem se isso pressionará Maduro a melhorar as condições para eleições mais justas.

Sem “colonialismo”

Em um discurso transmitido pela televisão na segunda-feira (15), Maduro antecipou a restauração das sanções, afirmando: “Não somos uma colônia dos Estados Unidos. A Venezuela continuará avançando em seu desenvolvimento econômico.”

O governo de Maduro havia gerado expectativas ao fechar um acordo com a oposição venezuelana no ano passado para realizar um pleito aberto em 2024. O acordo resultou na flexibilização das sanções dos EUA, permitindo à Chevron retomar a extração limitada de petróleo e possibilitando uma troca de prisioneiros.

As sanções foram impostas pelo então governo de Donald Trump para deter todas as exportações de petróleo da Venezuela e, assim, dificultar o controle de Maduro sobre o país. A intenção da medida era pressionar o autoritário líder a renunciar, mas ele conseguiu manter seu controle, apesar das sanções que levaram à miséria econômica para muitos venezuelanos.

Embora mostre sua crescente frustração com Maduro, é improvável que Biden volte à estratégia de “pressão máxima” tentada durante a era Trump, que só fortaleceu o líder esquerdista, dizem os especialistas.

“Para a Casa Branca, ficou claro que o governo Maduro não estava cumprindo, nem mesmo tentando cumprir, o acordo implícito para aliviar as sanções”, explicou Christopher Sabatini, pesquisador da Chatham House, um think tank independente sediado em Londres.

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