Argentina está no limite de pagamento da dívida, diz Fernández ao “FT”

Buenos Aires tenta compor com credores para pagar US$ 65 bilhões; crise limitou exportações e diminuiu caixa

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, informou que o país não consegue melhorar sua oferta aos credores externos para a reestruturação de US$ 65 bilhões em dívida.

A declaração foi feita ao jornal britânico “Financial Times“, em entrevista publicada nesta segunda (20). É a primeira vez que Fernández fala com um veículo estrangeiro desde a posse, em dezembro de 2019.

“Qualquer coisa a mais poria em risco nosso habilidade de [pagar] e risco, e eu não quero enganar ninguém”, afirmou. Os credores têm até 4 de agosto para aceitar a proposta.

No total, a Argentina deve US$ 323 bilhões. Em maio, foi o nono default da história do país – o maior deles, em 2001, veio acompanhado de colapso econômico e cinco presidentes em 12 dias, entre 20 de dezembro e 1 de janeiro de 2002.

Argentina está no limite de pagamento da dívida, diz Fernández ao "FT"
O presidente argentino Alberto Fernández, e sua vice, Cristina Kirchner, na cerimônia de posse em 2019 (Foto: Cámara de los Diputados)

A oferta mais recente, de junho, pressupunha um desconto na dívida. Cada dólar valeria cerca de 50 centavos – é um avanço para os credores, já que os títulos argentinos têm sido negociados com deságio de 60%. Isso significa que, na prática, valiam 40 centavos por dólar.

A maior parte da dívida argentina é devida a credores internos, controlada pelo Banco Central e por fundos de pensão estatais.

O país também deve para bancos de desenvolvimento multilaterais, credores bilaterais, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a credores privados, após emissões de bônus nos governos Macri e Kirchner.

Como pagar a dívida

Os bônus do governo Macri, de cerca de US$ 41, bilhões, pioraram a situação argentina. Esses valores foram captados mediante taxas mais altas, que tornasse a Argentina atraente para emprestadores mesmo em meio a uma crise, explica o analista Brad Setser, do CFR (Council of Foreign Relations).

O custo dessa conta, porém, tornou-se alto demais. As exportações do país não superavam os valores que deveriam ser remetidos ao exterior. Por isso, a Argentina declarou o default.

Neste ano, Buenos Aires teria de pagar US$ 77,4 bilhões no chamado serviço da dívida, ou juros e amortizações a vencer. Em 2021, seriam US$ 44,5 bilhões.

A Argentina tem baixas reservas internacionais. O colchão cambial despencou de US$ 80 bilhões em janeiro de 2019 para menos de US$ 45 bilhões em junho. Sem caixa, o país deve ficar sem pagar em 2020 e arcar com despesas simbólicas no próximo ano.

Com a retomada de um fluxo razoável de recursos do exterior, aumento das exportações e recuperação econômica global, espera-se que o país consiga o mínimo para retomar seus pagamentos.

Na entrevista ao “FT”, Fernández afirma apostar em um impulso na demanda de grãos argentinos por parte da China. Um aumento dos preços do petróleo também ajudaria o país, que exporta petróleo de xisto, commodity de produção cara.

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