Biden irrita a Turquia ao condicionar venda de jatos ao ingresso da Suécia na Otan

Negócio estava encaminhado, mas Washington recuou devido à hesitação de Ancara em aceitar Estocolmo na aliança

A Turquia tinha tudo acertado com os Estados Unidos para a compra de 40 jatos modelo F-16 e 80 kits de modernização. O negócio, porém, foi colocado em dúvida pelo presidente norte-americano Joe Biden, que irritou o homólogo Recep Tayyip Erdogan ao condicionar o acordo ao aval de Ancara à candidatura da Suécia à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). As informações são da agência Reuters.

Para ingressar na Otan, um país precisa de aprovação unânime dos membros. No caso da Suécia, faltam os avais de Turquia e Hungria. Erdogan tem sido o principal obstáculo nas pretensões suecas, pois cobra do país escandinavo uma postura mais clara sobre o que Ancara considera “terrorismo”, referindo-se à tolerância sueca com indivíduos acusados de serem membros de milícias curdas.

Jato F-16 produzido pela Lockheed Martin, dos EUA, julho de 2017 (Foto: CreativeCommons)

Em busca do “sim” de Ancara, Estocolmo cedeu parcialmente às exigências e adotou diversas medidas, inclusive extradição, contra supostos membros de grupos curdos considerados terroristas pela Turquia, como o PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos). Porém, isso não bastou para o aval de Erdogan, e Washington resolveu interferir.

O acordo para compra dos jatos por Ancara parecia acertado, inclusive com uma manifestação favorável de Jake Sullivan, Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, em julho. Abertamente, Washington insiste que o negócio está encaminhado. Porém, durante reunião entre os dois presidentes, à margem da cúpula do G20 em Nova Délhi, na Índia, Biden teria condicionado o acordo ao aval da candidatura sueca.

Ao comentar o adiamento da venda dos F-16, Erdogan disse que a decisão de aceitar a Suécia na Otan não cabe exclusivamente a ele, e sim aos parlamentares turcos, que em sua maioria são partidários ou aliados do presidente. Assim como são os parlamentares norte-americanos que, de acordo com Biden, decidirão sobre o acordo militar.

“Se você disser que o Congresso decidirá, então temos um Congresso na Turquia também. É o Parlamento turco. Não é possível eu dizer ‘sim’ sozinho, a menos que tal decisão seja aprovada pelo Parlamento”, disse Erdogan, acrescentando que a abordagem de Washington à questão é “seriamente perturbadora.”

A venda dos jatos é parte de um esforço de Washington para tentar melhorar as relações com Ancara, comprometidas devido ao apoio norte-americano a grupos armados curdos na Síria para combater o Estado Islâmico (EI). Embora o governo Biden seja favorável ao negócio dos F-16, há uma corrente no Congresso dos EUA que se opõe a ele.

A venda depende sobretudo da aprovação dos comitês de Relações Exteriores da Câmara e do Senado. O senador democrata Bob Menendez, que preside este último, é uma das vozes contrárias, o que pode levar o negócio a fracassar.

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