Brasil retira embaixador em Israel e exalta reconhecimento do Estado palestino por países europeus

A ação representa uma escalada e um rebaixamento diplomático, com a Embaixada do Brasil em Israel ainda funcionando, mas sem um embaixador no cargo

Nesta quarta-feira (29), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva oficialmente retirou o embaixador Frederico Meyer de seu posto na Embaixada do Brasil em Tel Aviv, Israel, após uma crise diplomática com o governo de Benjamin Netanyahu. O ato reflete meses de tensões acumuladas entre os dois países devido à guerra entre o Estado judeu e o Hamas.

O mal-estar entre os países começou após as declarações de Lula em 18 de fevereiro deste ano, quando, durante uma coletiva de imprensa na Etiópia em meio à cúpula da União Africana (UA), ele comparou as ações israelenses em Gaza ao Holocausto. Em resposta, o presidente brasileiro foi declarado persona non grata em território israelense, com sua declaração considerada antissemita contra o Estado de Israel. Além disso, o episódio levou o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, a convocar Meyer ao museu nacional do Holocausto em Jerusalém para uma reprimenda pública.

A decisão já foi publicada no Diário Oficial da União (DOU). O Ministério das Relações Exteriores de Israel, no entanto, afirmou que ainda não recebeu uma mensagem oficial do governo brasileiro sobre o assunto. Enquanto isso, Meyer foi transferido para Genebra, na Suíça, onde representará o Brasil na Conferência do Desarmamento da Organização das Nações Unidas (ONU).

Presidente Lula durante a cerimônia de Abertura da 37º Cúpula da União Africana, na sede da União Africana, em Adis Abeba (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Lula vinha condenando as ações de Israel na região, classificando-as como genocídio contra o povo palestino. No último sábado (25), durante um evento em Guarulhos (SP), ele pediu solidariedade às mulheres e crianças afetadas pelas ações do Estado judeu no enclave.

Segundo um funcionário do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, que falou sob condição de anonimato à agência Associated Press, a destituição ocorreu em resposta à “humilhação” de Meyer pelo principal diplomata de Israel.

Paralelamente, o Ministério das Relações Exteriores saudou nesta quarta os anúncios oficiais de Espanha, Irlanda e Noruega, feitos em 28 de maio, que reconhecem o Estado da Palestina, juntando-se a mais de 140 países, incluindo o Brasil desde 2010.

Em nota, a chancelaria disse que “crescente número de países que reconhecem o Estado da Palestina representa um avanço histórico significativo, que responde aos anseios de paz, liberdade e autodeterminação do povo palestino”.

O documento ainda diz que o “Brasil exorta os países que ainda não reconheceram a Palestina como Estado soberano a fazê-lo e reafirma seu apoio à solução de dois Estados”. E acrescenta: “Esta solução prevê um Estado da Palestina independente e viável, convivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro das fronteiras de 1967, incluindo a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental como capital”.

Em comunicado no Facebook, a Confederação Israelita do Brasil (Conib), um grupo pró-Israel no país, manifestou que “lamenta” a decisão. Segundo a entidade, “a medida unilateral do governo brasileiro nos distancia da tradição diplomática de equilíbrio e busca de diálogo, impedindo o Brasil de atuar como mediador e protagonista no Oriente Médio”.

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