O governo do Canadá não tem pressa para atingir a meta de gastos da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e assim acalmar seus críticos. Em meio à cúpula da aliança em Washington nesta semana, Ottawa confirmou que pretende finalmente atingir os 2% do PIB (produto interno bruto) estabelecidos como piso, mas definiu um prazo longo para chegar lá.
“O Canadá espera atingir a meta de gastos de 2% do PIB da Otan até 2032”, disse o primeiro-ministro Justin Trudeau a repórteres durante o evento da aliança militar transatlântica na capital norte-americana, conforme relato da agência Reuters.
Atualmente, o Canadá está entre os oito países que não atingem a meta de investimento em defesa. Um relatório divulgado pela aliança em junho indica que o país compromete somente 1,37% de seu PIB, com apenas quatro nações apresentando número pior: Bélgica (1,3%), Luxemburgo (1,29%), Eslovênia (1,29%) e Espanha (1,28%). Croácia, Portugal e Itália também não atingem a meta, mas gastam mais que Ottawa.
A posição canadense, que até agora não havia dado nenhum sinal de que atingiria o piso da aliança, é alvo de críticas dos aliados, conforme cresce a necessidade de fortalecer as defesas ocidentais ante à ameaça da Rússia. E a pressão pode se tornar insustentável caso Donald Trump seja eleito presidente dos EUA, vez que ele chegou a ameaçar não partir em defesa de nações que não cumpram a obrigação.
Na terça-feira (9), o senador norte-americano Mitch McConnell, do Partido Republicano, usou a rede social X, antigo Twitter, para cobrar o premiê canadense.
“Dei as boas-vindas a Trudeau no Capitólio dos EUA hoje. Valores partilhados e laços econômicos estreitos sempre foram a força da relação EUA-Canadá. Mas é hora de nosso aliado do Norte investir seriamente no poder duro necessário para ajudar a preservar a prosperidade e a segurança da Otan”, disse o político.
Welcomed @CanadianPM Trudeau to the U.S. Capitol today. Shared values and close economic ties have always been the strength of the U.S.-Canada relationship. But it’s time for our northern ally to invest seriously in the hard power required to help preserve prosperity and security… pic.twitter.com/2e921bOrHy
— Leader McConnell (@LeaderMcConnell) July 9, 2024
O presidente republicano da Câmara dos Representantes dos EUA, Mike Johnson, fez pressão idêntica no início da semana. “Fale sobre andar de carona com os EUA. Eles têm a segurança de estar em nossa fronteira e não precisam se preocupar com isso. Acho isso vergonhoso. Acho que, se você será uma nação membro e participante, precisa fazer sua parte”, declarou, conforme registro do Instituto Hudson.
Se a projeção de Trudeau não é ideal, ao menos parece um avanço em relação à perspectiva anterior. Um documento do governo canadense citado pelo site Politico no início da semana destacava planos de chegar a 1,7% do PIB até 2030, sem fazer menção aos 2%.
Pode ser, no entanto, que ao atingir a meta o Canadá esteja mais uma vez defasado. Isso porque há na Otan quem defenda um investimento ideal como sendo de 3% do PIB, o que já foi atingido por Polônia, com 4,12%, Estônia, com 3,43%, e os EUA, com 3,38%.
Fato é que a prioridade destinada atualmente pelo Canadá às Forças Armadas está totalmente fora de sintonia com a aliança. De 2023 para 2024, os gastos coletivos com defesa de 31 dos 32 integrantes subiram 17,9%, contra um aumento de 9,3% registrado no período equivalente anterior. Estes números abrangem apenas as nações europeias e o Canadá, desconsiderando os gastos descomunais dos EUA.
Sozinhos, os EUA gastam quase o dobro de todos os demais aliados somados, o que motiva as ameaças de Trump. O orçamento militar norte-americano previsto para este ano é de US$ 755 bilhões, enquanto as demais 31 nações, juntas, projetam investir US$ 430 bilhões.