Chefe da Otan contraria os EUA e defende uso de armas da aliança para atacar o território russo

Jens Stoltenberg destaca a recente ofensiva de Moscou em Kharkiv e diz que Kiev deve ter o mesmo direito de atacar o outro lado da fronteira

O secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) adotou uma posição clara no debate que divide a aliança militar. Contrariando a posição dos EUA, ele se manifestou favoravelmente ao uso pela Ucrânia de armas fornecidas por países-membros para atacar o território da Rússia. As informações são da rede Voice of America (VOA).

Em visita à Bulgária, o chefe da aliança destacou a atual ofensiva russa em Kharkiv, região ucraniana invadida. E alegou que o critério que vale para a Rússia deveria valer também para a Ucrânia.

“A linha de frente é mais ou menos a linha da fronteira. Se não se pode atacar as forças russas do outro lado da linha de frente porque elas estão do outro lado da fronteira, então é claro que se reduz realmente a capacidade das forças ucranianas de se defender”, declarou.

Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, janeiro de 2024 (Foto: NATO)

A afirmação feita na Bulgária fortalece o que o secretário-geral havia dito na semana passada em entrevista à revista The Economist. Na ocasião, ele afirmou que “chegou a hora de os aliados considerarem se deveriam levantar algumas das restrições que impuseram ao uso de armas que doaram à Ucrânia.” E igualmente usou a ofensiva em Kharkiv como justificativa.

Stoltenberg ainda criticou, na referida entrevista, a falta de apoio militar a Kiev, dizendo que os membros da Otan prometeram enviar um milhão de cartuchos de artilharia às forças ucranianas, mas até agora “não vimos nada perto disso.”

Com a manifestação, o chefe da aliança amplia o grupo de autoridades que defendem o direito de Kiev atacar a Rússia. Um a se manifestar nesse sentido recentemente foi o secretário das Relações Exteriores britânico, David Cameron.

Em entrevista à agência Reuters, ele disse que a Ucrânia poderia usar as armas fornecidas pelo Reino Unido inclusive para atingir o outro lado da fronteira. E usou o mesmo argumento do chefe da Otan para justificar sua posição.

“A Ucrânia tem esse direito. Assim como a Rússia está atacando dentro da Ucrânia, você pode entender perfeitamente por que a Ucrânia sente a necessidade de ter certeza de que está se defendendo”, disse o secretário britânico.

As manifestações de Stoltemberg e Cameron atendem ao recente pedido do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, segundo quem uma autorização para atacar posições defensivas russas poderia mudar o rumo do conflito.

“Podemos ver todos os pontos onde as tropas russas estão concentradas. Conhecemos todas as áreas de onde os mísseis russos são lançados e os aviões de combate decolam”, disse Zelensky, segundo a VOA.

O maior foco de resistência à solicitação de Kiev continua sendo Washington, sob o argumento de uma eventual agressão à Rússia poderia ampliar a guerra e forçar a aliança a se envolver diretamente. Moscou inclusive faz ameaças frequentes nesse sentido, e a fala de Cameron foi um dos argumentos para o recente exercício militar russo que contou inclusive om armas nucleares táticas.

Segundo o Kremlin, as manobras foram realizada em resposta a declarações “perigosas” dos aliados ocidentais, que representam uma “escalada direta de tensão.“ O porta-voz do governo, Dmitry Peskov, seguiu pelo mesmo caminho após a fala de Stoltemberg à The Economist, dizendo que “a Otan está flertando com a retórica militar”, de acordo com a Reuters.

Embora Washington insista em defender oficialmente sua oposição ao pedido ucraniano, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse na semana passada que a “Ucrânia é um país soberano” e, portanto, toma “suas próprias decisões.”

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