Moscou faz nova ameaça após falas ‘perigosas’ de líderes da Otan: ‘Escalada direta de tensão’

França volta a sugerir tropas ocidentais na Ucrânia, enquanto Reino Unido autoriza o aliado a usar armas britânicas contra a Rússia

A guerra fria entre a Rússia e os aliados ocidentais ganhou um novo capítulo nesta semana. Como de praxe, Moscou usou palavras ameaçadoras para responder às mais recentes promessas de ajuda à Ucrânia feitas por países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), classificando como “escalada direta de tensão” as manifestações do Reino Unido e da França.

Na quinta-feira (2), o secretário das Relações Exteriores britânico, David Cameron, afirmou à agência Reuters que seu governo entregará anualmente a Kiev 3 bilhões de libras esterlinas em ajuda militar “enquanto for necessário”, confirmando uma promessa feita pelo primeiro-ministro Rishi Sunak.

“Esvaziamos realmente tudo o que podíamos em termos de doação de equipamentos”, disse o secretário. “Alguns desses (equipamentos) estão chegando hoje à Ucrânia, enquanto estou aqui”, acrescentou.

O que irritou Moscou, porém, não foi exatamente a promessa de apoio. Foi o sinal verde dado pela autoridade para que a Ucrânia eventualmente use as armas britânicas para atacar o território russo, uma questão que até pouco tempo atrás era tabu para os integrantes da Otan.

Cameron e Macron, dezembro de 2023: aliança fortalecida contra Moscou (Foto: divulgação/gov.uk)

“A Ucrânia tem esse direito”, afirmou Cameron. “Assim como a Rússia está atacando dentro da Ucrânia, você pode entender por que a Ucrânia sente a necessidade de ter certeza de que está se defendendo.”

Ataques dentro do território russo não são novidade. Eles ocorrem desde o início da guerra, e ultimamente Kiev tem intensificado os bombardeios sobretudo contra refinarias de petróleo. Porém, a questão é delicada a ponto de o próprio governo ucraniano não assumir oficialmente a autoria, deixando no ar a ideia de que são ações de grupos rebeldes russos que se viraram contra Moscou.

Os aliados ocidentais costumavam ser ainda mais cautelosos a respeito dessa questão, relutantes inclusive em fornecer à Ucrânia armas com alcance suficiente para ataques dentro da Rússia. No entanto, com as recentes vitórias obtidas pelas tropas russas e perspectiva de uma derrota ucraniana, a postura vem mudando, como ficou claro na declaração de Cameron.

Até os EUA, geralmente os mais cautelosos, cederam. Segundo a rede BBC, Kiev começou a usar contra o território da Rússia mísseis de longo alcance fornecidos secretamente por Washington. Tais armas foram entregues em um pacote de ajuda anterior ao aprovado recentemente pelo Congresso norte-americano, e ataques contra a Crimeia foram registrados nesta semana.

Os mísseis em questão são a versão de longo alcance dos Sistemas de Mísseis Táticos do Exército (ATACMS), segundo um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA. A entrega deles às forças ucranianas teria sido aprovada pelo presidente Joe Biden em segredo no mês de fevereiro.

Soldados da Otan na Ucrânia

Outra questão delicada que voltou a ser levantada nesta semana é a da eventual presença de tropas ocidentais no campo de batalhas. E quem mais uma vez tocou na questão, sem o comedimento de outros tempos, foi o presidente da França Emmanuel Macron.

Em entrevista à revista The Economist, o líder francês reforçou o que havia dito em ao menos outras duas oportunidades, admitindo que o envio de soldados é uma hipóteses a ser considerada.

“Como eu disse, não descarto nada, porque estamos diante de alguém que não descarta nada”, afirmou ele, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Temos, sem dúvida, sido hesitantes demais em definir os limites da nossa ação contra alguém que já não tem esses limites e que é o agressor!”

Segurança europeia em perigo

Para Moscou, as duas declarações são motivo de “preocupação”. A palavra foi usada na sexta-feira (3) pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, segundo relatou a rede Voice of America (VOA).

“Esta é uma escalada direta de tensão em torno do conflito ucraniano que pode potencialmente representar um perigo para a segurança europeia, para toda a arquitetura de segurança europeia”, disse ele. “É aqui que vemos uma tendência tão perigosa de escalada de tensão nas declarações oficiais. Isso é motivo de preocupação para nós.”

Quem também reagiu foi a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova. “Esta é a primeira vez que um político ocidental reconhece tão francamente o que há muito é um segredo bem conhecido pela maioria dos países do mundo: que o Ocidente está travando uma guerra secreta contra a Rússia pelas mãos dos ucranianos”, declarou ela.

Tags: