Cooperação entre a Rússia e a China no Ártico é ‘preocupante’, diz Pentágono

Parceria tem desdobramentos não apenas no campo comercial, mas também no militar, e pode impactar na estabilidade regional

O Ártico vem se tornando um ponto importante da aliança entre Rússia e China, que cada vez mais exploram as riquezas minerais da região e a utilizam para fins comerciais e militares. Um relatório do Pentágono, o Departamento de Defesa do governo dos EUA, divulgado na segunda-feira (22), alerta para a situação e a classifica como “preocupante”, de acordo com a agência Reuters.

A presença crescente de russos e chineses no Ártico está atrelada às mudanças climáticas, que levam ao derretimento do gelo na região e assim facilitam a navegação. A parceria entre os dois países está focada sobretudo na exploração de novas rotas comerciais, embora tenha fins também militares, e isso pode impactar na estabilidade regional, segundo o documento.

Derretimento de gelo no Ártico viabiliza a navegação comercial explorada por Rússia e China (Foto: WMO)

“Cada vez mais, a RPC (República Popular da China) e a Rússia estão colaborando no Ártico por meio de múltiplos instrumentos de poder nacional”, diz o Pentágono. “Embora ainda existam áreas significativas de desacordo entre a RPC e a Rússia, seu crescente alinhamento na região é preocupante, e o Pentágono continua monitorando essa cooperação.”

Para Moscou, as rotas árticas se tornaram uma importante alternativa para entrega de petróleo a Beijing em meio às sanções ocidentais impostas à Rússia em função da guerra da Ucrânia. Já a China consegue diversificar suas rotas de navegação, hoje concentradas no Oceano Índico.

Atualmente, o governo chinês depende excessivamente do Estreito de Malaca, que liga os oceanos Índico e Pacífico e por onde passa cerca de 40% do comércio mundial, bem como 80% de todo petróleo e 11% de todo gás importados pela China. Trata-se de uma importante vulnerabilidade estratégica apontada por especialistas em segurança.

Na avaliação do Pentágono, a presença chinesa no ártico cresceu a ponto de o país estabelecer uma espécie de Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative) no Ártico, versão local de sua iniciativa comercial global voltada a financiar projetos de infraestrutura em todo o mundo e assim difundir a influência de Beijing através do dinheiro.

De acordo com o relatório, Beijing busca alavancar “a dinâmica de mudança no Ártico para buscar maior influência e acesso, aproveitar os recursos do Ártico e desempenhar um papel maior na governança regional.”

Questionado sobre o documento, o Ministério das Relações Exteriores chinês respondeu nesta terça (23). “A China tem participado dos assuntos do Ártico em conformidade com os princípios básicos de respeito à cooperação vantajosa para todos e ao desenvolvimento sustentável e fortaleceu a cooperação com outras partes para manter a paz e a estabilidade”, disse o porta-voz Mao Ning.


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