Ex-funcionário de agência de inteligência dos EUA é condenado por vender segredos a Moscou

Jareh Sebastian Dalke recebeu uma sentença de quase 22 anos de prisão. Entre as informações repassadas constam capacidades de defesa sensíveis dos EUA

Na segunda-feira (29), Jareh Sebastian Dalke, um ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA, da sigla em inglês), foi condenado a quase 22 anos de prisão por vender informações confidenciais a um agente disfarçado do FBI, a polícia federal norte-americana, que ele acreditava ser uma pessoa a serviço do Kremlin. As informações são do site Politico.

O juiz distrital dos EUA que julgou o caso, Raymond Moore, comentou que poderia ter imposto uma sentença ainda mais longa a Dalke, de 32 anos, descrevendo o veredito de 262 meses como uma medida de “misericórdia” diante do que ele considerou uma ação premeditada de Dalke ao aceitar o cargo na NSA com o intuito de vender segredos de segurança nacional.

“Isso foi flagrante. Foi descarado e, na minha opinião, foi deliberado. Foi uma traição”, disse o magistrado.

Vista aérea da Agência de Segurança Nacional dos EUA (Foto: CreativeTime Reports/Flickr)

Os advogados de Dalke pediram uma sentença de 14 anos de prisão para o veterano do Exército, que se declarou culpado de acusações de espionagem no outono passado em um acordo com os promotores. Eles argumentaram que a informação não chegou às mãos do inimigo e não causou danos significativos.

O defensor público federal David Kraut também pleiteou uma pena mais branda, citando a lesão cerebral traumática de Dalke, suas tentativas de suicídio e os traumas de sua infância, como testemunhar violência doméstica e abuso de substâncias. Kraut apontou que pesquisas mostram que tais traumas aumentam o risco de envolvimento em comportamentos perigosos mais tarde na vida.

Dalke, mais tarde, se disse “arrependido” a Moore, afirmando sofrer de TEPT, sigla para transtorno bipolar e transtorno obsessivo-compulsivo. Ele negou motivação ideológica ou financeira para vender segredos, sugerindo que estava sob a impressão de se comunicar com autoridades. No entanto, Moore mostrou ceticismo sobre suas condições, uma vez que não foram apresentadas opiniões de especialistas ou registros hospitalares pela defesa.

Dívidas e “herança” russa como justificativa

Documentos judiciais revelaram que Dalke, que trabalhou na NSA por aproximadamente um mês, confessou ao agente disfarçado do FBI que desejava “causar mudanças” após questionar o papel dos Estados Unidos em danos globais. Ele também admitiu estar endividado em US$ 237 mil (cerca de R$ 1,2 milhão). Dalke afirmou que escolheu colaborar com a Rússia devido à sua herança ligada ao país.

Dalke inicialmente recebeu US$ 16,4 mil (aproximadamente R$ 85,6 mil) em criptomoeda por partes de documentos que ele compartilhou com o agente para demonstrar o que possuía. Posteriormente, ele ofereceu vender o restante das informações por US$ 85 mil (R$ 441 mil), conforme registrado no acordo judicial.

Seguindo as instruções do agente, Dalke dirigiu-se à estação ferroviária do centro da cidade de Denver em 28 de setembro de 2022, onde usou uma conexão digital segura em seu laptop para enviar os documentos ao longo de um período de quatro horas. Antes de transferir todos os arquivos, Dalke enviou uma carta de agradecimento em russo, expressando expectativas de amizade e benefícios compartilhados. Momentos após a transmissão dos arquivos, agentes do FBI o prenderam.

De acordo com a acusação, Dalke buscava fornecer a Moscou informações que incluíam uma avaliação da ameaça às capacidades ofensivas militares de um terceiro país não identificado. Além disso, as informações incluíam descrições das capacidades de defesa sensíveis dos EUA, algumas das quais estavam relacionadas com o mesmo país estrangeiro.

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