Fragilidade judicial e violência impedem julgamento dos acusados de matar presidente haitiano

Caso enfrenta repetidas interrupções devido ao medo das gangues, o que levou inclusive à renúncia de juízes ligados ao caso

Quase quatro anos após o assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse, nenhum dos 20 suspeitos presos enfrentou julgamento. O processo, marcado por atrasos e tensões, é afetado pela crescente violência de gangues, ameaças de morte e a fragilidade das instituições judiciais locais. As informações são da agência Associated Press (AP).

O caso que abalou a capital Porto Príncipe em 7 de julho de 2021 permanece envolto em controvérsias. Entre os suspeitos estão 17 ex-soldados colombianos e três oficiais haitianos, incluindo um ex-prefeito, um ex-policial e um ex-funcionário do Ministério da Justiça.

Alguns dos principais acusados, como Dimitri Hérard, ex-chefe de segurança do Palácio Nacional, ainda estão foragidos após uma fuga em massa de presos em 2024, facilitada por gangues armadas.

Posse de Jovenel Moïse como presidente do Haiti em fevereiro de 2017 (Foto: ONU/Flickr)

O andamento das investigações foi dificultado pela renúncia de juízes temerosos de represálias e pela tomada de prédios públicos por grupos criminosos. No ano passado, gangues controlaram o prédio do tribunal central de Porto Príncipe, forçando o governo a transferir as audiências para residências privadas em bairros considerados mais seguros.

“Enquanto os esforços internacionais produziram alguns resultados, a busca por justiça no Haiti continua evasiva. Juízes, promotores e advogados trabalham sob constante ameaça”, avalia o professor e advogado haitiano Bruner Ulysse.

Durante as sessões, revelações tensas marcaram os depoimentos. O policial Ronald Guerrier, um dos responsáveis pela proteção de Moïse, declarou não ter conseguido reagir aos atacantes, que teriam usado táticas e equipamentos para confundir a segurança, incluindo megafones e vestimentas que os fizeram passar por agentes de segurança dos EUA. “Os atacantes agiam como se estivessem entrando na própria casa”, relatou.

Os suspeitos colombianos, por sua vez, afirmam que foram contratados por uma empresa de segurança com sede em Miami para missões legítimas, negando qualquer envolvimento no assassinato. Em seus depoimentos, eles denunciaram maus-tratos e tortura psicológica e física durante a prisão e as investigações, apontando para violações dos direitos humanos.

Um fiapo de justiça se desenha nos EUA, onde 11 suspeitos extraditados já respondem a processos, com cinco deles tendo se declarado culpados pela conspiração para assassinar Moïse. O julgamento dos demais está marcado para março de 2026. Martine Moïse, viúva do ex-presidente, deve depor no processo norte-americano, embora enfrente acusações de cumplicidade que ela nega.

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