Governo argentino já considera nova moratória, diz ministro

Proposta de Buenos Aires envolve prazo de três anos para pagamento e deve ser aceita até sexta por credores

O governo argentino já considera uma nova moratória unilateral de sua dívida externa, a nona na história do país, de acordo com o ministro das Finanças Martín Guzmán, em entrevista nesta terça (5) ao diário britânico “Financial Times”.

Guzmán falou ao jornal apenas quatro dias antes do vencimento de prazo para troca de bônus de credores privados, que seriam substituídos por papéis com vencimento entre 2030 e 2047.

A proposta argentina envolve um prazo de três anos para retomar os pagamentos, mais desconto de 62% nos juros, de cerca de US$ 38 bilhões, e desconto de 5,4% no principal, de US$ 3,6 bilhões. A dívida total do país bate US$ 324 bilhões, ou quase 90% de seu PIB (Produto Interno Bruto).

“Precisamos ter certeza de que temos os instrumentos para lidar com a dramática situação pela qual passa o país. Fazer algo que só esconde o problema significa mais agonia”, afirmou o ministro.

Nesta segunda (4), ao menos três comitês dos detentores desses bônus recusaram a oferta argentina para essa parcela da dívida, de cerca de US$ 66 bilhões. Entre esses credores estão os fundos norte-americanos BlackRock, T Rowe e Fidelity.

Ministro das Finanças argentino já considera nova moratória
O Ministro das Finanças da Argentina, Martín Guzmán, em entrevista coletiva (Foto: Wikimedia Commons)

O plano oferecido pelo comitê de credores “não chega nem perto de oferecer o alívio que a Argentina precisa para restaurar a sustentabilidade da dívida”, afirmou Guzmán ao “FT”. “Seria de pouco valor fazer uma promessa [de pagamento] que não conseguimos cumprir”, disse o ministro.

Caso o país não chegue em acordo com os credores privados até 22 de maio, entra em moratória técnica. Isso porque o país já deixou de pagar US$ 500 milhões em juros que venceriam em 22 de abril.

Sem condições de pagar a dívida, o governo argentino teme minar a confiança do setor privado local e não ter recursos para responder à crise do coronavírus. O país conta 4.600 casos confirmados e 241 mortes.

A consequência do default seria a redução ainda mais grave do fluxo de crédito e do investimento estrangeiro no país. Para custear as despesas, o Banco Central teria de ampliar a oferta de moeda, aumentando a já elevada inflação – de 53,8% em 2019, segundo o Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censo).

O FMI (Fundo Monetário Internacional) é o maior credor do país desde 2018, quando emprestou US$ 57 bilhões para o governo de Mauricio Macri durante uma crise cambial. Destes, US$ 44 bilhões ainda não foram pagos.

O ministro das Finanças argentino é considerado “ideológico” por parte dos investidores estrangeiros. Guzmán teria excessivo alinhamento com atual vice-presidente Cristina Kirchner, em cujo governo foi declarado o último default, em 2014.

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