Na Bolívia, o mais recente tratamento “milagroso” sem comprovação científica para “prevenir ou tratar” o coronavírus é o dióxido de cloro, usado como agente de limpeza. Agora, legisladores têm pressionado as autoridades para reconhecer o produto como medicamento, diz a CNN.
O produto é usado sobretudo para desinfetar suprimentos de água potável e clarear tecidos, e nunca foi vendido para uso humano. À Reuters, os consumidores do produto afirmaram que produto é uma alternativa à falta de atendimento médico.

“As autoridades dizem que você precisa consultar seu médio, mas nunca tivemos um médico”, disse um morador de Cochabamba, cidade ao centro da Bolívia.
No mês passado, o Ministério da Saúde da Bolívia advertiu contra o uso do produto e o anúncio foi replicado por autoridades de saúde do mundo todo.
Parlamentares locais, no entanto, estão promovendo o uso. O prefeito de Cochabamba, José María Leyes, afirmou ser necessário “testar alternativas medicinais” para prevenir a doença.
Não existem evidências da eficácia do produto e a sua ingestão ou inalação pode causar efeitos adversos graves e pode levar até à morte. Em 2019, o produto ganhou manchetes por ser usado como suposta cura para o autismo. Causou lesões intestinais e quase levou crianças à morte.
Tratamento sob pressão
Na metade de julho, o Senado da Bolívia aprovou um projeto de lei que consente o fornecimento e uso da solução de dióxido de cloro para a prevenção e tratamento do coronavírus. A lei autoriza os laboratórios públicos e privados a produzir a solução enquanto houver risco de contágio da doença.
Um comunicado oficial apontou ainda que os governos locais devem garantir o fornecimento da solução no seu sistema de saúde. “É uma norma que disponibiliza à população uma alternativa para salvar vidas”, disse o senador Ciro Zabala.

A oposição do governo – que detém a maioria no Senado e Câmara dos Deputados – pressiona a votação do projeto agora na Casa Legislativa.
Ano de tensão
Após terem sido adiadas duas vezes, as eleições gerais bolivianas estão previstas para outubro deste ano. O pleito aumenta a pressão por alternativas eleitoreiras, eficazes ou não.
Fortemente afetada pela pandemia, a Bolívia já declarou estado de calamidade pública. A presidente interina, Jeanine Áñez, têm recebido duras críticas sobre a condução do país no período pandêmico, sobretudo do ex-líder Evo Morales.
Para tentar diminuir o consumo do produto, o Ministério da Saúde da Bolívia ameaçou processar os que promovem o seu uso. Até o momento, no entanto, não foram tomadas medidas legais contra indivíduos ou entidades específicas.