As recentes negociações entre Estados Unidos e Rússia sobre o fim da guerra na Ucrânia geraram apreensão entre os aliados europeus, em especial entre os países do leste do continente. Durante a primeira rodada de conversas, Moscou exigiu a retirada das tropas da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) do flanco oriental da aliança, uma demanda que foi prontamente rejeitada pela delegação americana, mas que ainda levanta dúvidas sobre a posição do governo de Donald Trump no longo prazo. As informações são do Financial Times.
A Romênia, um dos países que faz parte da chamada linha de frente da Otan, manifestou preocupações sobre a possibilidade de Washington eventualmente ceder à pressão russa. Cristian Diaconescu, chefe de gabinete do presidente romeno, Ilie Bolojan, afirmou que “a situação pode mudar de hora para hora”, destacando a imprevisibilidade das decisões de Trump.
A postura do governo americano nos últimos dias tem elevado as tensões na Europa. Além de excluir a Ucrânia da Otan, Washington indicou a intenção de normalizar relações com Moscou, o que vem sendo interpretado como um enfraquecimento do compromisso de segurança dos EUA com a região.
Um alto funcionário europeu expressou incerteza sobre a real percepção do governo americano a respeito das preocupações dos aliados. “Informamos Washington em vários níveis, mas não sabemos o que realmente está chegando a Trump. O risco de a Rússia influenciar a Casa Branca por meio da questão ucraniana continua presente”, disse a fonte.

O temor de um “novo Yalta”
A principal preocupação de muitos líderes europeus é que um acordo entre Trump e Putin possa remodelar a segurança do continente de forma semelhante ao que ocorreu na Conferência de Yalta, em 1945, quando EUA, Reino Unido e União Soviética dividiram suas áreas de influência na Europa. O presidente russo tem buscado, há anos, restabelecer essa dinâmica, pressionando pela retirada militar ocidental de países que faziam parte da antiga esfera soviética para assim tentar fortalecer sua influência nesses Estados.
Para Sandu-Valentin Mateiu, analista de defesa e ex-oficial de inteligência da Romênia, a Europa enfrenta um momento decisivo. “A Europa conhece a lição de 1938”, disse, referindo-se ao Acordo de Munique, que cedeu territórios à Alemanha nazista sem evitar a Segunda Guerra Mundial. “Se os EUA retirarem suas garantias de segurança, a Europa precisará agir.”
Diaconescu reforçou que os países do leste europeu estão dispostos a resistir a qualquer mudança que ameace sua estabilidade. “Vamos lutar até o último minuto para evitar um retrocesso”, afirmou, alertando que as gerações mais jovens do continente podem não compreender os riscos de voltar a um passado marcado por instabilidade e controle autoritário.
Polônia e o papel da Otan
Entre os países que mais demonstram preocupação está a Polônia, um dos principais aliados dos EUA na Europa. O ministro da Defesa polonês, Władysław Kosiniak-Kamysz, garantiu que “a retirada das tropas americanas não é um cenário considerado” pelo governo, mas nos bastidores há receios sobre a condução das negociações por Trump.
Com eleições presidenciais marcadas para maio, a política polonesa também sente o impacto da crise. Analistas apontam que a aproximação entre EUA e Rússia pode dividir a direita polonesa, historicamente alinhada a Washington e firmemente contrária a Moscou. Bartosz Rydliński, professor da Universidade Cardeal Stefan Wyszyński, avalia que o risco não se limita à Ucrânia. “Se Trump for capaz de ceder a Ucrânia à Rússia, nada impede que faça o mesmo com os Estados bálticos ou até com a Polônia”, afirmou.
Enquanto isso, líderes da França e do Reino Unido devem visitar Washington na próxima semana em uma tentativa de influenciar Trump a manter seu compromisso com a segurança europeia.