Uma nova avaliação da inteligência dos Estados Unidos, divulgada na última sexta-feira (10), reforça a conclusão de que a maioria dos casos relacionados à chamada “Síndrome de Havana” não está vinculada à atuação de adversários estrangeiros. A revisão, endossada por cinco das sete agências de inteligência responsáveis pela investigação, aponta que é “muito improvável” que os sintomas sejam causados por uma arma ou dispositivo desenvolvido por outra nação. As informações são da rede Voice of America (VOA).
Os incidentes, conhecidos oficialmente como “incidentes anômalos de saúde” (AHIs, na sigla em inglês), começaram a ser relatados em 2016, com sintomas como tontura, náusea, dores de cabeça intensas e problemas de memória. Apesar de novas informações sensíveis terem sido analisadas, as agências afirmam que não há evidências que sustentem a ligação entre os eventos e adversários estrangeiros.

“Todos os componentes da IC [comunidade de inteligência] concordam que anos de coleta de histórico, direcionamento e esforços analíticos não trouxeram à tona relatórios de inteligência convincentes que vinculassem um ator estrangeiro a qualquer evento específico relatado como um possível AHI”, disse um oficial da inteligência americana.
Divergências internas e pressão política
Embora a maioria das agências mantenha a posição, duas delas avaliam com “baixa confiança” que um ator estrangeiro poderia estar envolvido em um número limitado de casos. Em um dos pareceres, há uma “chance aproximadamente igual” de que adversários tenham desenvolvido um dispositivo experimental de energia direcionada, embora o relatório observe que seu uso em eventos relatados como AHIs seja improvável.
Essa posição gera críticas dentro do governo e entre especialistas. Em dezembro, um subcomitê da Câmara dos Representantes acusou as agências de trabalho negligente ao tentar, supostamente, “criar uma conclusão politicamente aceitável”.
Para o congressista Mike Turner, presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, o novo relatório subestima os riscos para os agentes americanos. “Essa avaliação deveria mudar completamente a forma como vemos as capacidades dos nossos adversários e os perigos enfrentados pelo nosso pessoal”, afirmou.
Avanços limitados em pesquisa e reações de vítimas
Apesar da negativa sobre o envolvimento estrangeiro, o governo dos EUA continua investindo na pesquisa sobre energia direcionada. Um relatório de 2022 apontou que energia eletromagnética pulsada poderia explicar alguns casos raros, mas os estudos permanecem inconclusivos..
Vítimas da síndrome criticaram a postura oficial, acusando o governo de manter informações ocultas. Mark Zaid, advogado que representa dezenas de vítimas, afirmou que “o relatório continua a esconder a verdade sob um manto de sigilo” e solicitou a desclassificação completa do documento. Segundo ele, “evidências do uso de energia direcionada por países como a Rússia existem há décadas”.A “síndrome de Havana” foi relatada inicialmente na Embaixada dos EUA em Cuba, mas casos semelhantes surgiram em locais como China, Rússia, Polônia, Áustria e inclusive nos Estados Unidos.