Novo porto no Peru amplia presença da China na América do Sul e fortalece relação com o Brasil

Na última década, Beijing superou os EUA e tornou-se o principal parceiro dos países sul-americanos, usando a aliança também para ganhos políticos

Está prevista para novembro deste ano a conclusão da primeira etapa das obras do Porto de Chancay, no Peru, megaprojeto chinês inserido na Nova Rota da Seda (em inglês Belt and Road Initiative, ou BRI). Orçado em US$ 3,5 bilhões, servirá como porta de entrada para a China na América do Sul, onde Beijing vem aumentando consistentemente sua presença, e fortalecerá também a relação com o Brasil, sob a perspectiva de facilitar o comércio entre os países. É o que mostra reportagem da agência Reuters.

O porto será o primeiro operado pela China na América do Sul, sobretudo através da COSCO, que detém 60% de participação graças a um acordo de US$ 225 milhões assinado em 2019. Entre os principais produtos que passarão por Chancay está a soja brasileira, que atualmente segue em direção à Ásia pelo canal do Panamá e contornando o Atlântico. O trajeto, agora, será bem mais curto.

Obras no Porto de Chancay, no Peru, inserido na Nova Rota da Seda (Foto: facebook.com/puertodechancay)

O Brasil, por sinal, é um ator crucial no projeto, pelo volume do comércio com a China. Por essa razão, outras obras vêm sendo discutidas de forma a facilitar o transporte terrestre dos grãos e da carne brasileiros para Chancay.

Uma alternativa é a Rodovia Interoceânica, que ligaria os dois países sul-americanos através dos Andes. Outra alternativa é uma ferrovia que está em fase de estudos, segundo o embaixador brasileiro em Lima, Clemente Baena Soares.

“É uma oportunidade para a produção de grãos e carne, especialmente de Rondônia, Acre, Mato Grosso e Amazonas, ir para a Ásia através do Porto de Chancay”, disse Soares durante visita às obras em setembro de 2023.

EUA em desvantagem

O porto marca a vitória definitiva da China sobre os EUA no comércio com a América Latina, região que desde 2018 tem em Beijing seu maior parceiro comercial. Entre os mais de 150 países inseridos na Nova Rota da Seda, 22 são latino-americanos.

Considerando somente a América do Sul, a vantagem comercial chinesa em relação aos EUA é de US$ 100 bilhões no comércio bilateral. A parceria acaba tendo reflexos inclusive políticos, permitindo a Beijing exercer certa influência sobre governos.

Diante de tal cenário, nem o novo presidente argentino Javier Milei consegue resistir. Eleito com base em uma campanha que prometia distância máxima em relação à China, bastaram poucos dias no poder para ele mudar de posição e buscar uma reaproximação.

Mas é o caso peruano que melhor expõe a virada de jogo chinesa sobre os EUA. Há cerca de uma década, Washington ainda eram o maior parceiro comercial do país sul-americano. Hoje, a vantagem da China está na casa dos US$ 10 bilhões. A situação é especialmente preocupante porque o Peru é o segundo maior produtor de cobre do mundo, sendo este um metal crucial para o desenvolvimento tecnológico em diversas áreas.

A inauguração de Chancay, embora não tenha data certa, dever ocorrer mesmo em novembro, quando acontece a cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico). O presidente chinês Xi Jinping tem presença confirmada e espera-se que ele comande a inauguração, segundo uma fonte peruana ouvida pela Reuters.

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