A guerra da Ucrânia colocou a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em alerta para o risco de um invasão posterior da Rússia a um de seus membros, e desde então os países aumentaram a prioridade do investimento em defesa. Em fevereiro, o secretário-geral Jens Stoltenberg projetou que 18 deles cumpririam a meta de gastos, que é de 2% do PIB (produto interno bruto), uma avaliação que agora se mostra conservadora. Na segunda-Feira (17), ele afirmou que já são 23 os afiliados acima do piso, segundo informações da agência Associated Press (AP).
“Os europeus estão fazendo mais pela sua segurança coletiva do que há apenas alguns anos”, disse o chefe da aliança em um evento em Washington, nos EUA, onde também se reuniu com o presidente norte-americano Joe Biden.
De 2023 para 2024, os gastos coletivos com defesa de 31 dos 32 integrantes da Otan aumentaram 17,9%, contra um aumento de 9,3% registrado no período equivalente anterior. Estes números abrangem apenas as nações europeias e o Canadá, desconsiderando os gastos descomunais dos EUA, conforme relatório divulgado pela aliança na segunda.

Sozinhos, os EUA gastam quase o dobro de todos os demais aliados somados. O orçamento militar norte-americano previsto para este ano é de US$ 755 bilhões, enquanto as demais 31 nações, juntas, projetam investir US$ 430 bilhões. A diferença, entretanto, já foi bem maior, sendo a maior discrepância registrada em 2014, US$ 660 bilhões contra US$ 250 bilhões.
Para se ter ideia do impacto da guerra da Ucrânia, o crescimento dos gastos coletivos foi de apenas 3,7% de 2021 para 2022. A última vez em que foi registrada redução nos investimentos dessas nações foi no biênio 2013-2014, com queda de 0,9%. A mudança de postura há dez também esteve atrelada a ações de Moscou, que em 2014 colocou a aliança em alerta ao anexar a Crimeia.
Há mais uma estatística que evidencia a preocupação com uma agressão futura. Em números absolutos, os EUA têm de longe o maior orçamento militar do mundo. Na porcentagem do PIB, porém, os líderes são dois países que fazem fronteira com a Rússia: a Polônia, que lidera com 4,12%, e a Estônia, que vem a seguir com 3,43%, contra 3,38% dos norte-americanos.
Outro fator que talvez tenha pesado na avaliação de algumas nações é a pressão imposta por Donald Trump, candidato à presidência dos EUA. Durante a campanha, ele contestou a postura daqueles que não atingem a meta e afirmou que não se comprometeria em defendê-los de uma eventual agressão.
“A mudança de administração dos EUA teve o argumento absolutamente válido de dizer que os aliados dos EUA estão gastando muito pouco”, disse Stoltenberg. “A boa notícia é que isso está mudando.”
Hoje, os países que ainda estão abaixo do piso de 2% do PIB são Croácia (1,81%), Portugal (1,55%), Itália (1,49%), Canadá (1,37%), Bélgica (1,3%), Luxemburgo (1,29%), Eslovênia (1,29%) e Espanha (1,28%).
Com os números em mãos, a Otan voltará a debater a agressão russa na cúpula que acontece entre 9 e 11 de julho na capital norte-americana. O tema mais quente será a possível integração da Ucrânia à aliança, o que ocorreria tão logo se encerrasse a guerra e colocaria anda mais pressão sore o Kremlin.
“A ideia é aproximá-los (os ucranianos) tanto da adesão que, quando chegar a hora, quando houver consenso, eles possam se tornar membros imediatamente”, disse Stoltenberg. “Quando os combates terminarem, a adesão à Otan garantiria que a guerra realmente terminasse”, acrescentou, referindo-se ao pacto que desencorajaria nova agressão porque obrigaria os membros a partirem em defesa de Kiev.