Pentágono coordenou campanha antivacina para prejudicar a China, aponta investigação

Governo norte-americano trabalhou em segredo na tentativa de desacreditar a empresa chinesa Sinovac no auge da pandemia

Em 2020, no auge da pandemia de Covid-19, centenas de contas de supostos cidadãos filipinos na rede social X, à época ainda conhecido como Twitter, passaram a divulgar informações que colocavam em dúvida a eficácia e a segurança das vacinas e de outros artigos de saúde produzidos pela farmacêutica chinesa Sinovac. Agora, uma investigação da agência Reuters concluiu que tudo se tratava de uma campanha de desinformação do governo norte-americano para desacreditar a companhia.

Ex-autoridades militares dos EUA que participaram da campanha confirmaram que cerca de 300 perfis falsos foram criados com o objetivo de atingir a população filipina com a desinformação, contestando a qualidade de máscaras faciais e testes de Covid-19 da Sinovac.

O tema central, porém, acabou sendo a primeira vacina da empresa, que vinha sendo administrada nas Filipinas. Assim, a ação coordenada pelo Pentágono, o Departamento de Defesa norte-americano, tornou-se uma grande campanha antivacina no país asiático.

Vacina produzida por farmacêutica chinesa, dezembro de 2020 (Foto: Divulgação/Marco Verch)

Segundo as fontes ouvidas pela reportagem, Washington tomou a decisão de agir em resposta à desinformação promovida pela China que culpava os EUA pela pandemia. Um dos focos da ação era difundir a contestada alegação de que as vacinas continham gelatina de porco, o que as tornaria proibidas pela lei islâmica.

A iniciativa começou durante o governo do ex-presidente Donald Trump, em 2020, e se estendeu até meados de 2021, já sob a gestão de Joe Biden. Durou aproximadamente um ano e aos poucos atingiu também países do Oriente Médio e da Ásia Central.

A campanha só foi encerrada após Biden emitir um decreto proibindo iniciativas que questionassem a eficácia de vacinas contra a Covid-19, levando o Pentágono a iniciar uma revisão interna. Entretanto, especialistas citados pela Reuters avaliam que a desinformação difundida por Washington foi suficiente para colocar milhares de vidas em risco.

“Não acho que seja defensável. Estou extremamente consternado, desapontado e desiludido ao ouvir que o governo dos EUA faria isso”, afirmou Daniel Lucey, especialista em doenças infecciosas da Escola Geisel de Medicina de Dartmouth, dos EUA.

Questionado, o Pentágono afirmou que “utiliza uma variedade de plataformas, incluindo redes sociais, para combater os ataques de influência maligna dirigidos aos EUA, aliados e parceiros”. Acrescentou que a China iniciou uma “campanha de desinformação para culpar falsamente os Estados Unidos pela propagação da Covid-19.”

Concluída a apuração, a rede social X foi notificada e constatou que os perfis identificados pela Reuters ao longo da investigação mantinham um padrão de atividade compatível com campanhas coordenadas de desinformação. Assim, foram todos desativados.

O governo filipino não respondeu às perguntas da reportagem, mas um porta-voz do Departamento de Saúde do país declarou que as conclusões “merecem ser investigadas e ouvidas pelas autoridades competentes dos países envolvidos.” 

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