Polícia Federal realiza operação contra seguidores do Hezbollah em Minas Gerais

Alvo das autoridades foi uma tabacaria que financiou viagens de brasileiros recrutados pelo grupo extremista libanês

A Polícia Federal executou nesta quinta-feira (8) mandados de prisão e de busca e apreensão emitidos pela Subseção Judiciária de Belo Horizonte, com o propósito de coletar evidências relacionadas ao financiamento de atos de terrorismo por brasileiros recrutados por células do grupo militante Hezbollah investigados na Operação Trapiche, que teve início em 8 de novembro de 2023.

Foram cumpridos um mandado de prisão preventiva e oito mandados de busca e apreensão nas cidades de Belo Horizonte, Uberlândia, Contagem, São Paulo e Brasília. Além disso, a Justiça Federal ordenou o bloqueio de valores e contas bancárias, bem como a suspensão das atividades econômicas de determinadas empresas.

Agentes da PF identificaram que Mohamad Khir, principal recrutador do Hezbollah no Brasil, utilizou um padrão repetido de aliciamento para atrair diversos envolvidos com o grupo extremista libanês.

A Operação Trapiche se baseia na rígida lei antiterrorismo brasileira, promulgada antes dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016. A legislação adota uma postura contundente contra a prática de atos motivados por xenofobia, discriminação racial, étnica e religiosa.

Polícia Federal brasileira (Foto: Divulgação)

Nesta fase da investigação, conhecida como Operação Trapiche-FT, descobriu-se que o principal suspeito, aproveitando-se da vulnerabilidade de imigrantes e refugiados, usou seus dados pessoais para abrir contas bancárias e empresas, através das quais circulavam recursos de origem ilícita.

As provas obtidas no inquérito policial mostram que as passagens aéreas dos brasileiros recrutados para viajar ao exterior, onde foram entrevistados para possível ingresso no grupo extremista, foram financiadas com o lucro do comércio ilegal de cigarros eletrônicos contrabandeados e vendidos em tabacarias no Brasil.

Também foi descoberto que parte do dinheiro obtido com o contrabando foi transferido para contas de empresas de fachada que fazem parte de um grande esquema de evasão de divisas e lavagem de dinheiro, revelado pela Operação Colossus, também realizada pela Polícia Federal.

Depois de várias transferências entre essas contas, o dinheiro ilegal foi convertido em criptoativos e enviado para carteiras que estão sob sanções por estarem ligadas a organizações terroristas.

Os envolvidos podem ser acusados de crimes como contrabando, participação em organização terrorista, preparação para atos terroristas, financiamento ao terrorismo e lavagem de dinheiro. Se somadas, as penas máximas podem chegar a 75 anos e 6 meses de prisão.

Hezbollah na América do Sul

Relatórios do governo dos EUA sugerem que o Hezbollah está envolvido na captação de recursos por meio de atividades ilegais, como contrabando, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, na região da Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. Essas atividades seriam utilizadas para financiar as operações do grupo no exterior.

Em janeiro, o Departamento do Tesouro norte-americano relacionou o ex-presidente paraguaio Horacio Cartes à lavagem de dinheiro associada ao Hezbollah.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), os recentes anúncios do Tesouro causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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