A produção de armamentos da Rússia para a guerra na Ucrânia cresceu de forma mais acelerada do que a das potências ocidentais em 2023. De acordo com um relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), as maiores empresas de defesa russas registraram crescimento de 40% em suas receitas, enquanto suas concorrentes dos Estados Unidos e da Europa cresceram apenas 2,5% e 0,2%, respectivamente. As informações são da rede Al Jazeera.
Os países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) levam vantagem em valores absolutos, já que as receitas dos principais fornecedores russos somaram US$ 25,5 bilhões, contra US$ 317 bilhões das empresas norte-americanas e US$ 133 bilhões das europeias.
De acordo com o Sipri, apenas duas empresas russas figuram entre as cem maiores do setor de defesa: a estatal Rostec, que fabrica aeronaves, blindados e eletrônicos, e a United Shipbuilding Corporation. Porém, o aumento significativo das receitas russas evidencia a capacidade do país em mobilizar sua economia em tempos de guerra, para atender às demandas militares.

“A transparência na produção de armas da Rússia começou a diminuir significativamente após a anexação da Crimeia em 2014”, afirma o instituto. “A maioria das empresas de armas parou de publicar relatórios financeiros depois da invasão em grande escala da Ucrânia em 2022”.
O crescimento das empresas de defesa russas também pode ser explicado pela adoção de uma “economia de guerra”, segundo Joseph Fitsanakis, professor de estudos de inteligência e segurança na Coastal Carolina University.
“A produção militar russa está atualmente superando a dos EUA e de todos os Estados-Membros da Otan juntos”, afirmou Fitsanakis. “Esses gastos gigantescos basicamente criaram uma economia de guerra, o que impediu o início de uma grande recessão econômica”
Entretanto, o analista questiona a sustentabilidade desse modelo. Segundo ele, as sanções e a falta de recursos levam as empresas de defesa russas a enfrentar taxas de juros que, em alguns casos, superam 20%.
“Embora as receitas tenham aumentado, muitas enfrentam dificuldades para obter lucro e há preocupação de que o setor de defesa russo possa falir em menos de dois anos, forçando o governo a intervir”, declarou.
Por outro lado, os países europeus têm encontrado desafios para transformar gastos em produção efetiva. A maior parte dos contratos de defesa dos membros da União Europeia (UE) está sendo destinada a países de fora do bloco, como os Estados Unidos, enfraquecendo o setor industrial de defesa europeu.
O Sipri aponta ainda problemas de cadeias de suprimento que afetam também os fabricantes norte-americanos, como a Lockheed Martin e a RTX.
Diante do cenário, a UE tenta reagir. Em junho de 2023, aprovou a Lei de Apoio à Produção de Munição, destinando 500 milhões de euros para aumentar a produção de projéteis e explosivos. Josep Borrell, chefe de Relações Exteriores do bloco, afirmou recentemente que mais de 1,5 milhão de munições serão entregues à Ucrânia até o fim do ano.