‘The Economist’ critica tarifa histórica de Trump e prevê impacto ‘catastrófico’ no comércio global

Nova política dos EUA eleva taxas de importação sobre China, Índia, União Europeia e outros parceiros estratégicos

A decisão do presidente Donald Trump de impor tarifas generalizadas sobre quase todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos foi classificada pela revista The Economist como “o maior erro econômico da era moderna”, cujo resultado pode ser “catastrófico”. Logo após o anúncio, feito no Jardim das Rosas da Casa Branca, a publicação britânica afirmou que a medida rompe com o sistema comercial global e leva o país de volta a níveis tarifários do século 19.

As novas alíquotas atingem em cheio potências econômicas como China (34%), Índia (27%), Japão (24%) e União Europeia (20%), além de impor ao menos 10% de taxa sobre quase todos os demais países exportadores, caso do Brasil. Com isso, a carga tarifária média dos EUA supera o patamar da Grande Depressão e retoma níveis praticados antes mesmo do século 20.

Trump, que tratou o anúncio como um dos dias mais importantes da história americana, classificou a ocasião como “Dia da Libertação”. O presidente afirmou que os Estados Unidos foram “saqueados, pilhados, estuprados e espoliados por nações próximas e distantes” e que as novas tarifas corrigem décadas de “transferência de riqueza” ao exterior.

No Jardim das Rosas da Casa Branca, Trump impõe tarifas a parceiros comerciais dos EUA (Foto: White House/Flickr)

Segundo a The Economist, os argumentos usados por Trump ignoram o consenso histórico e econômico sobre os efeitos negativos do protecionismo. E ele se escora em ideias que contrariam as boas práticas ê a realidade da economia.

“O presidente diz que tarifas são necessárias para fechar o déficit comercial dos Estados Unidos, que ele vê como uma transferência de riqueza para estrangeiros”, diz o texto. “No entanto, como qualquer um dos economistas do presidente poderia ter dito a ele, esse déficit geral surge porque os americanos escolhem economizar menos do que seu país investe — e, crucialmente, essa realidade de longa data não impediu sua economia de ultrapassar o resto do G7 por mais de três décadas.”

A publicação também critica o método usado pelo governo para definir as tarifas, que teria se baseado numa fórmula “quase aleatória” ligada ao déficit bilateral de cada país em relação aos EUA. Para a revista, a medida é um retrocesso à era pré-acordos multilaterais que impulsionaram o crescimento global no pós-guerra.

Embora Canadá e México tenham sido poupados das novas taxas, e produtos já sujeitos a medidas específicas (como automóveis e semicondutores) não tenham sido incluídos, o impacto econômico e geopolítico da decisão foi imediato. Ações de empresas com produção no exterior, como a Nike, que fabrica no Vietnã, tarifado em 46%, caíram até 7% no mercado.

Segundo a revista, embora o cenário projetado seja dos piores, os desdobramentos dependerão da reação dos países afetados. “O resto do mundo compartilhará o desastre — e deve decidir o que fazer. Uma questão é se deve retaliar”, afirma o texto. “A despeito do Sr. Trump, as barreiras comerciais prejudicam aqueles que as colocam. Como elas têm mais probabilidade de fazer com que o Sr. Trump dobre a aposta do que recue, elas correm o risco de piorar as coisas — possivelmente catastroficamente, como na década de 1930.”

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