O presidente dos Estados Unidos Donald Trump, em sua volta à Casa Branca, deve adotar uma postura mais combativa em relação à China, com a indicação de nomes conhecidos por críticas contundentes a Beijing para ocupar cargos-chave na política externa. Entre os escolhidos estão o deputado Mike Waltz, cotado para conselheiro de segurança nacional, e o senador Marco Rubio, esperado como próximo secretário de Estado. As informações são do jornal The Washington Post.
Ambos são defensores de uma postura firme contra a influência do Partido Comunista Chinês (PCC). Rubio tem um histórico de pressão por uma política de contenção à China, enquanto Waltz declarou no ano passado que os Estados Unidos já vivem uma “Guerra Fria” contra o rival. Para analistas, essas nomeações sinalizam uma mudança de abordagem em relação ao primeiro mandato de Trump, mais focado em acordos comerciais.
“Este é o maior e mais claro indicador que tivemos até agora da possível direção da política externa de Trump” avalia Rush Doshi, especialista do think tank Council on Foreign Relations. “Isso pode significar uma abordagem mais dura e bipartidária do que uma abordagem transacional focada em acordos com o presidente Xi Jinping.”
Outro destaque é a escolha da deputada Elise Stefanik para embaixadora na ONU (Organização das Nações Unidas). Conhecida por críticas à China e ao que chama de “podridão antissemita” nas resoluções do órgão, ela promete enfrentar desafios em um cenário no qual Beijing tem ampliado sua influência.
Stefanik já deixou claro, em ocasiões anteriores, que [é favorável ao enfrentamento, tendo dito que “Washington precisa ser um contrapeso ao avanço chinês no sistema internacional.”
Morde e assompra
A relação de Trump com a China é marcada por ambiguidades. Durante seu primeiro mandato, ele removeu sanções a empresas chinesas em troca de avanços comerciais e bloqueou restrições a exportações sensíveis após apelos de grandes corporações. Agora, analistas sugerem que a administração pode usar figuras mais duras como estratégia de barganha.
“[Rubio] terá dificuldade em argumentar com a China que os Estados Unidos querem cooperar com eles e não buscam derrubar o Partido Comunista Chinês’,” opina Lyle Morris, do think tank Asia Society Policy Institute. “Acho que é parte da abordagem de policial bom e policial mau de Trump.”
A China, por sua vez, observa com preocupação os desdobramentos. A moeda chinesa e os mercados financeiros sofreram impactos imediatos com rumores sobre as nomeações. Beijing, no entanto, deve explorar canais informais com interlocutores próximos a Trump, como empresários com interesses no país, segundo Yun Sun, diretora do programa chinês do Stimson Center.
Os desafios também se estendem à questão de Taiwan, ponto sensível nas relações EUA-China. Rubio e Waltz defendem maior apoio militar à ilha e mudanças na prioridade de defesa norte-americana, com foco no Indo-Pacífico.
Entretanto, Nishank Motwani, também do Asia Society Policy Institute, aposta em uma posição moderada no que tange à ilha. Ele aposta que Trump atuará decisivamente para conter a influência chinesa, mas avalia que “isso não se traduz necessariamente em uma maior disposição política para defender Taiwan, pois há a perspectiva de Trump fechar um acordo com Xi.”
Apesar das incertezas, especialistas apontam para uma continuidade na postura dura contra a China, reforçada por controles mais severos de exportação e maior apoio à defesa de aliados regionais. Como observa Eric Sayers, do American Enterprise Institute, “a próxima administração pode acelerar a competição com Beijing em diversas frentes, da tecnologia à segurança nacional.”