Centenário do Partido Comunista Chinês: 100 anos, 100 problemas

A Referência relembra 100 problemas enfrentados ao longo de um século de existência pela sigla que governa a China

Por André Amaral

Fundado em julho de 1921, o Partido Comunista Chinês (PCC) completou recentemente cem anos de existência. Nesse período, a caminhada da sigla para transformar a China em superpotência econômica foi marcada não apenas por conquistas, mas também por derrotas, autoritarismo e enormes tragédias.

Desde a Grande Fome, das décadas de 1950 e 1960, passando pelo Massacre na Praça da Paz Celestial, em 1989, até a aliança atual com a ditadura norte-coreana, A Referência relembra 100 problemas que o PCC enfrentou ao longo de um século de existência.

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1921 – Escolha do local da reunião de fundação: o Congresso Nacional da fundação do PCC é realizado entre 23 e 31 de julho. Embora originalmente sediado numa casa na Concessão Francesa de Xangai, a polícia francesa interrompe a reunião a 30 de julho, e o congresso é transferido para um barco turístico no Lago Sul em Jiaxing, província de Zhejiang.

Centenário do Partido Comunista Chinês: 100 anos, 100 problemas

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1924 – Em 1924, os comunistas ingressam no Partido Nacionalista (Kuomintang), que então desenvolvia uma política de aliança com a URSS. Pelo fato de a União Soviética ser uma parceira econômica do Kuomintang e ter mediado a inclusão dos comunistas no partido, ainda que submetidos ao líder nacionalista Sun Yat-sen, a relação é amigável durante três anos. Em 1927, o Kuomintang, sob o comando de Chiang Kai-shek, rompe a aliança com o PCC e massacra os comunistas.

Doze membros do Kuomintang reúnem-se em 1925 para se oporem à política de tolerância aos comunistas (Foto: Wikimedia Commons)

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1926 – Kim Il-sung, ditador da Coreia do Norte desde a fundação do país (1948) até sua morte (1994), tem seu despertar ideológico influenciado pelo PCC. Na infância, ele foge com a família para a China, e em 1926 cria no país um grupo revolucionário para combater o Imperialismo japonês. Mais tarde, ele se junta ao Exército do Norte e depois foge para a União Soviética, onde é treinado pelo Exército Vermelho e serve até o fim da Segunda Guerra Mundial. Depois da Guerra da Coreia, na qual o exército do Norte teve suporte chinês, Moscou nomeia Kim para liderar a Coreia do Norte.

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1927 – Mao Tsé-Tung é nomeado comandante-chefe do Exército Vermelho e lidera a Revolta da Colheita do Outono. Ele ataca Changsha, mas falha. Em 15 de setembro, aceita a derrota para o Kuomitang e, juntamente com mil sobreviventes, recua rumo às montanhas Jinggang.

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1929-1930 Li Lisan assume o controle do partido, mas sua liderança é um fracasso. Com o PCC à beira da destruição, o Comintern soviético decide agir e destitui Li do poder.

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1931 – Mao Tsé-Tung assume o comando do partido comunista e declara a República Soviética chinesa. Ao contrário do que previra Marx com a revolução dos operários, a mudança de estratégia do PCC começa a apoiar ideais de revolução dos camponeses, criando os sovietes rurais e desenvolvendo táticas de guerrilha. Os nacionalistas se propõem a destruí-los. Mao e seus seguidores são obrigados a abandonar o soviete em que se encontram devido a uma nova investida do Kuomintang liderado por Chiang Kai-Shec.

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1934-1935 – Com a repressão ao comunismo imposta por Chiang Kai-Shec, Mao Tsé-Tung e 100 mil homens percorrem mais de 10 mil quilômetros pelo interior da China até o norte do país com o objetivo de reorganizar um governo com o sistema soviete. O episódio ficou conhecido como a Longa Marcha. Conflitos e fadiga causam a morte de 80% dos participantes da Longa Marcha. Ao final, somente 20 mil sobrevivem à fome, às condições climáticas, ao cansaço, a doenças e combates, que ocorrem frequentemente com os nacionalistas ao longo do caminho.

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1948 – O primeiro genocídio comandado por Mao é registrado. Estudos publicados em 1948 indicam que o líder chinês teria projetado milhões de mortes para viabilizar a reforma agrária. Nesse programa, as terras dos senhores feudais são tomadas pelo governo e distribuídas para os camponeses que não têm onde viver. Durante o processo, que se estende por décadas, dois milhões de pessoas são executadas, segundo estimativa.

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1945-49 – A guerra explode novamente entre o PCC e os nacionalistas do Kuomintang. Nanquim tem uma fuga em massa enquanto as forças comunistas avançam em direção à cidade, em fevereiro de 1949. O exército nacionalista arma a defesa da cidade, que cai nas mãos dos comunistas em abril de 1949.

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1949 – O Exército Popular de Libertação derrota os nacionalistas, que se refugiam na ilha de Taiwan e formam um governo ditatorial, separando-se da China continental como um Estado independente. Vitoriosos, os comunistas fundam a República Popular da China. A nação pós-revolucionária é desorganizada, pobre e está em ruínas.

Mao Tsé-Tung proclama a República Popular da China em 1 de outubro de 1949 (Foto: Wikimedia Commons)

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1950 – Assinado o Tratado de Amizade entre China e URSS, que aproxima as duas potências comunistas, apesar das notórias divergências entre os líderes Mao Tsé-Tung e Stalin. Os interesses contrários logo se tornam maiores do que os pontos em comum. Em 1960, a União Soviética chama de volta todos os especialistas que tem na China. Em 1969, uma disputa fronteiriça é resolvida através das armas.

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1950 – Os revolucionários perseguem ferozmente todas as classes ligadas aos nacionalistas. Funcionários estatais, administradores de empresas, pequenos e médios proprietários urbanos e rurais, membros de associações religiosas e tradicionais, entre outros segmentos, tornam-se “inimigos do povo”.

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1950-53 – Com a promessa de apoio soviético, a China luta ao lado da Coreia do Norte contra a Coreia do Sul, apoiada pelos EUA. Pelo menos 100 mil chineses morrem na Guerra da Coreia.

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1957-59 – O movimento antidireitista expurga intelectuais e reformistas. São pessoas com pontos de vista liberais e visões tendentes ao capitalismo e à divisão de classes. A campanha coordenada pelo PCC atinge mais de 500 mil pessoas.

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1959 – Tibetanos protestam contra o controle chinês e a distribuição forçada de terras, e a China responde através da força. Dalai Lama atravessa o Himalaia e foge para a Índia após o fracassado levante tibetano contra o domínio do PCC. Quatro anos antes, o líder espiritual tibetano havia apertado a mão de Mao em Pequim.

Mao Tsé-Tung (centro) encontra o 14º Dalai Lama (ao seu lado, à direita) para celebrar o Ano Novo Tibetano, 1955, Pequim (Foto: Wikimedia Commons)

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1958 – Fracassa economicamente o Grande Salto Para a Frente (1958-1962), que buscava transformar a economia agrária do país. O resultado é escassez de alimentos no país.

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1958-1961Grande Fome Chinesa, em virtude do fracasso do Grande Salto Para a Frente. É amplamente considerada a fome mais mortal e um dos maiores desastres provocados pelo homem na história da Humanidade, com um número estimado de mortes que varia de 15 a 55 milhões de pessoas.

Menino chinês vítima d’A Grande fome (Foto: PICRYL/Divulgação)

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1958 – Ocorre o Incidente Xunhua, episódio que marca a revolta do povo tibetano e do povo Salar contra o governo comunista na província de Chingai. A rebelião eclode em Lhasa, capital do Tibete, quando mais de 4 mil pessoas, de diferentes etnias, matam um líder de equipe da força-tarefa do PCC. O incidente termina em um massacre comandado pelo ELP (Exército de Libertação Popular), matando 435 pessoas, a maioria civis desarmados. O ELP faz ameaça de bombardear a cidade caso a ordem não seja mantida.

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1959 – Revolta no Tibete. Em 10 de março de 1959, milhares de rebeldes tibetanos cercam o palácio de verão do Dalai Lama, desafiando as forças militares chinesas. A ocupação da China havia começado em 1950, quando as tropas do Exército de Libertação Popular invadiram o país. A artilharia chinesa esmaga a resistência tibetana, executa os guardas do líder espiritual e destrói mosteiros de Lhasa. Diante dessa atmosfera desoladora, ocorre a fuga do 14º Dalai Lama Tenzin Gyatso para a Índia.

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1966-1968 – É estabelecida a Revolução Cultural, com quatro objetivos: corrigir o rumo das políticas do PCC; substituir seus sucessores por líderes com maior alinhamento ideológico; oportunizar um experiência revolucionária à juventude; e tornar menos elitistas os sistemas educacional, cultural e de saúde. Para levar a ideia a efeito, Mao organiza a juventude urbana em grupos conhecidos como “Guardas Vermelhos”. Na prática, o trabalho do batalhão, que chega a ter 11 milhões de integrantes, resulta em escolas fechadas, vandalismo a monumentos históricos, perseguição a intelectuais, adoração à imagem do líder, reacionarismo, combate ao pensamento do filósofo Confúcio e punição a quem contraria o regime comunista.

Um grupo mineradores de carvão recitam parágrafos do “Pequeno Livro Vermelho” de Mao Tsé-Tung, enquanto celebram a “Grande Revolução Cultural Proletária” (Foto: AFP via Getty Images)

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1970s – No início dos anos 70, a selvageria e a desordem provocadas na sociedade pela atuação dos militantes da Guarda Vermelha trazem enormes problemas políticos para Mao Tsé-Tung. No seio do ELP e do PCC surgem críticas cada vez mais contundentes diante do caos e descontrole social e político provocados pelas ações da Guarda Vermelha. Mao cede às críticas e ordena o desmonte da Guarda Vermelha.

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1975 – Ocorre o Incidente de Shadian, um grande levante do povo muçulmano Hui contra o regime comunista durante a Revolução Cultural. O episódio culmina em um massacre liderado por militares em sete aldeias da província de Yunnan. Mais de 1,6 mil civis são mortos, incluindo 300 crianças. Milhares de casas são destruídas.

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1976 – Morre Mao Tsé-Tung aos 82 anos, no dia 9 de setembro. Após uma breve luta pelo poder, Deng Xiaoping assume o comando do país em 1978 e implementa o “socialismo com características chinesas”, um regime de vertente capitalista diverso daquele projetado por Mao na origem do partido.

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1978-79 – Cartazes no “Muro da Democracia” em Pequim protestam sobre questões sociais e apoiam a reforma política no país. O líder do movimento é Wei Jingsheng, um eletricista de família maoísta e que fora Guarda Vermelho na juventude. O ativista surge como um dos líderes por mudanças na China, e seus manifestos carregam mensagens em favor de democracia, liberdade, modernização e Direitos Humanos, tais como “Nós não queremos mais deuses e imperadores, ou salvadores de qualquer tipo”. Ele é preso no ano seguinte e solto somente em 1993.

De novembro de 1978 a dezembro de 1979, milhares de pessoas colocaram seus manifestos em uma longa parede de tijolos da Rua Xidan (Foto: Wikimedia Commons)

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1979 – A política do filho único é introduzida, com o governo temerário quanto a um rápido aumento da população após o baby boom das décadas de 1950 e 1960. A taxa de fertilidade do país cai drasticamente, de um pico de quase seis nascimentos para cada mulher, entre 1960 e 1965, para 1,5, entre 1995 e 2014.

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1980 – Jiang Qing, a última esposa de Mao, ouve depoimentos contra ela no julgamento da Gangue dos Quatro, em Pequim. Ela e mais três autoridades do partido são acusadas de crimes contra o Estado, incluindo conspiração para derrubar o novo líder Hua Guofeng. Jiang é a única dos quatro a se defender, alegando que tudo o que fez teve a aprovação de Mao. Todos são condenados.

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1987 – Ocorre o incidente de Sumdorong Chu, terceiro confronto entre o Exército de Libertação Popular e o Exército Indiano, ocorrido no Vale Sumdorong Chu. No verão de 1987, a China desloca tropas em direção à fronteira indiana. Embora os chineses justifiquem o avanço como um exercício regular, os indianos desconfiam da ação e tomam uma posição mais agressiva, já que até um heliporto é construído no local. O impasse se aproxima de uma guerra. A diplomacia indiana evita o conflito e leva a China à mesa das negociações. O impacto do incidente é tal que o então Primeiro-Ministro Rajiv Gandhi visita Beijing em 1988, onde fala com o Primeiro-Ministro chinês em pé de igualdade.

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1987-89 – Protestos violentos irrompem no Tibete. Tropas chinesas e manifestantes tibetanos protagonizam uma série de conflitos que se estendem por dois anos. A inquietação vem desde 1959, quando o Dalai Lama fugiu para a Índia depois de uma rebelião fracassada. Beijing impõe a lei marcial.

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04/06/1989 – Massacre da Praça da Paz Celestial. Centenas de milhares de estudantes e trabalhadores se reúnem para lamentar a morte do secretário-geral do PCC Hu Yaobang. O evento pacífico logo se transforma em um movimento por maior transparência, reformas e, eventualmente, democracia. O exército é mobilizado para dispersar a multidão e age com armas de fogo e tanques de guerra. Centenas, talvez milhares, de pessoas morrem. O governo nunca divulgou um levantamento oficial. Até hoje o assunto é proibido no país.

A área da praça após o massacre, em junho de 1989 (Foto: Wikimedia Commons)

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1990 – Começa o período de declínio de Deng Xiaoping, um dos poucos revolucionários camponeses a liderar a China. Suas reformas são reconhecidas por reduzir a pobreza, mas deixam questões de ordem social e política sem solução. Como resultado de suas reformas de mercado, muitas empresas estatais não têm lucratividade e precisam ser fechadas. Na mesma época, o ritmo da urbanização segue a aumentar, o desemprego urbano torna-se um problema sério e a escassez de moradias urbanas resulta no aumento de favelas em grandes centros urbanos.

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1993-1994 – Entre 1993 e 1994, China vive discrepâncias econômicas assombrosas. Embora tenha produzido o maior PIB do mundo registrado na época, a inflação igualmente atinge cifras astronômicas, como a de 25%, em 1994.

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1995 – A internet comercial já é realidade no mundo. Na China, as restrições impostas à sociedade são levadas ao mundo digital, e as pessoas não podem usar a rede para falar mal do governo, ver imagens sensuais ou apostar em jogos de azar. Para regrar a população, o governo chinês cria uma série de leis e ferramentas digitais de bloqueio, como parte de uma política que vem sendo aprimorada desde então.

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1998 – A crise financeira asiática atinge as empresas estatais em fase de reforma, deixando 30 milhões de desempregados na China.

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1999 – O Falun Gong, uma prática meditativa com base no budismo e no taoísmo, sofre uma campanha nacional do PCC destinada a erradicar sua prática. O acesso na internet a sites que mencionam a prática é bloqueado e, em outubro de 1999, o gênero de meditação é declarado uma “organização herética” que ameaça a estabilidade social. Milhares de prisões de praticantes ocorrem no país, e os detidos ficam sujeitos a trabalhos forçados, abuso psiquiátrico e tortura.

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2002 – À medida que a China se torna protagonista global, seus embaraços passam a dizer respeito (e preocupar) todo o planeta. “Os problemas da China com a economia, energia e meio ambiente são problemas de todo o mundo”, sintetiza Bracken, da Universidade de Yale. De acordo com ele, um bom exemplo é o petróleo, já que o país gera um terço do aumento da demanda global do produto entre 2002 e 2004. Se o país para de comprar, o mercado mundial é seriamente afetado. 

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2005 – Pesquisas mostram um aumento constante no número de requisições de terras forçadas. Todos os anos, governos locais desapropriam terras de aproximadamente 4 milhões de cidadãos chineses em áreas rurais. Em 43% das pesquisas, moradores da China relatam serem vítimas de grilagem de terras. Na maioria dos casos, a terra é vendida para investidores privados a um custo médio de 40 vezes mais alto por acre do que o governo pagou aos moradores.

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2006 – Relatórios sobre a extração sistemática de órgãos de prisioneiros do Falun Gong surgem neste ano, mas acredita-se que tal prática tenha começado seis anos antes. Vários pesquisadores do assunto — mais notavelmente o advogado canadense de Direitos Humanos David Matas, o ex-parlamentar David Kilgour e o jornalista investigativo Ethan Gutmann — estimam que dezenas de milhares de praticantes da prática meditativa foram mortos para alimentar um lucrativo comércio envolvendo órgãos humanos para transplante e cadáveres humanos.

Mais de 20 anos após o PCC iniciar campanha para eliminar a prática espiritual do Falun Gong na China, protestos ocorrem no mundo. Como este em 2021, no Canadá (Foto: Ted McGrath/Flickr)

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2007 – Trabalho infantil na China se agrava. A ONG CLB (do inglês “China Labour Bulletin”, organização não governamental que promove e defende os direitos dos trabalhadores do país) denuncia que a exploração das crianças no mercado tem piora decorrente da pobreza, por brechas legais e por erros no sistema educacional rural. É lançado o documentoMãos Pequenas: um relatório sobre o trabalho infantil na China”, estudo que aponta que as indústrias eletrônica, têxtil, alimentícia, de plásticos e de brinquedos são as que mais utilizam a mão-de-obra infantil –especialmente de meninas, que são menos escolarizadas.

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2008 – A Carta 8 é redigida. O manifesto, assinado por 303 intelectuais e ativistas dos Direitos Humanos, de múltiplas profissões – e depois por outras oito mil pessoas –, nasce com o objetivo de promover a reforma política e a democratização na República Popular da China. O texto reivindica que o governo chinês se empenhe em promover ou autorizar o multipartidarismo, um sistema judicial independente, liberdade de religião, associação e imprensa.

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2008 – A China é o pais que mais libera emissões de carbono no planeta – levando muitos a acreditar que os chineses têm a maior responsabilidade pelas mudanças climáticas. O país lidera a lista anual de maiores emissores do gás de efeito estufa dióxido de carbono (CO2), de acordo com Our World in Data, uma publicação científica on-line que tem a Universidade de Oxford como colaboradora.

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03/2008 – Monges budistas realizam protestos em Lhasa, no Tibete. Ativistas a favor da independência do país denunciam que centenas de monges promovem manifestações e que a polícia chinesa intervém com uso gás de lacrimogêneo. Dezenas são presos. O porta-voz, Ministério do Exterior chinês, Qin Gang, afirma que os protestos dos partidários do líder espiritual tibetano, Dalai Lama, não terão sucesso. “O plano da facção do Dalai (Lama) está destinado ao fracasso”, afirma.

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2009 – Autoridades confirmam que dois membros da minoria uigur são mortos pela polícia na cidade de Urumqi, capital da Província de Xinjiang. Os distúrbios, ocorridos em julho, têm como pano de fundo o ressentimento de longa data entre uigures e a maioria chinesa han. Cerca de 200 pessoas morrem, segundo estimativa da mídia estatal. O Departamento de Estado dos EUA e grupos de Direitos Humanos desde então acusam o governo chinês de deter até dois milhões de uigures e minorias muçulmanas em campos de detenção extrajudiciais, que Pequim afirma serem “centros de treinamento vocacional”, projetados para prevenir o separatismo e o extremismo religioso.

Mulheres da etnia uigur nas Ruínas de Melikawat, China (Foto: Wikimedia Commons)

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2009 – A China é o país que executa mais pessoas por pena de morte no planeta, respondendo por 72% do total mundial em 2009, segundo levantamento da ONG Anistia Internacional (AI). Até 1997, a família do condenado deveria pagar a bala da execução, com a chamada “taxa da bala”. Desde 2004, a maioria das execuções acontece com uma injeção letal. Normalmente, o país não divulga estatísticas sobre penas de morte, tratadas como segredo de Estado.

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2010 – O autoritarismo digital é uma das principais assinaturas da repressão na China na segunda década do século 21. A censura da Internet é extrema e carrega uma grande variedade de leis e regulamentos, conhecida internacional e ironicamente como “O Grande Firewall da China”. Pelo “Projeto Escudo Dourado”, autoridades do governo não apenas bloqueiam o acesso ao conteúdo dos websites, como também monitoram os internautas. As regras se estendem às corporações estrangeiras: ao fazer negócios no país, as empresas de tecnologia dos EUA devem cumprir as regras locais – ou sair, como o Google fez neste mesmo ano.

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03/2010 – Funcionários da fábrica chinesa da Honda entram em greve, exigindo aumento salarial e um sindicato eleito. Um funcionário menciona que a Honda estaria disposta a se comprometer, mas o governo da província de Cantão havia se manifestado contra o aumento salarial, temendo que demandas semelhantes pudessem ser feitas em outras empresas.

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2011 – Dois monges tibetanos colocam fogo em seus corpos para protestar contra as políticas do Governo chinês. Um deles é Phuntsog, de 21 anos, monge em Aba, região essencialmente tibetana da província de Sichuan que havia se erguido contra o controle chinês três anos antes. O religioso grita frases sobre liberdade enquanto queima, relata a organização Campanha Internacional pelo Tibete.

Phuntsog foi o primeiro monge a auto-imolar-se no Tibete desde 2009 (Foto: FreeTibet.org/Reprodução)

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05/2011 – Um homem comete suicídio e a outras duas pessoas em um ataque a bomba contra prédios do governo local no sul da China, também ferindo 10 espectadores. Qian Mingqi, que passou uma década sem sucesso tentando obter reparação legal pelo que ele disse ser a demolição ilegal de sua casa, detona três bombas em três escritórios do governo em Fuzhou, província de Jiangxi.

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2011 – Inspirados pela Revolução de Jasmim da Tunísia e pelos protestos no norte da África e Oriente Médio, dissidentes chineses convocam manifestações pró-democracia em várias cidades chinesas. Embora os organizadores tenham proposto inicialmente que os participantes gritassem slogans, mais tarde mudam seus planos, incentivando os cidadãos a passear inocentemente por locais específicos em horários pré-determinados. Em resposta, as autoridades chinesas lançam uma ofensiva conjunta contra dissidentes, jornalistas, defensores dos Direitos Humanos, artistas e outros manifestantes por reformas democráticas.

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12/2011 – Moradores da vila de Wukan expulsam as autoridades do Partido Comunista após protestos contra desapropriação de terras. Um cordão policial é feito e não é permitida a entrada de alimentos ou água, nem a saída dos aldeões. A revolta da vila de pescadores é com a tentativa de pegar uma de suas últimas parcelas de terra cultivável e entregá-la a um grande promotor imobiliário chinês.

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2013 – Xi Jinping assume a presidência com o propósito de moldar a autoridade do PCC à sua própria, fazendo dos dois uma única e superpoderosa voz autoritária. Uma das primeiras providências do presidente é extinguir o limite de dois mandatos e abrir a chance de se eternizar no poder. Sob Xi, o partido amplia seus tentáculos, aperta o controle sobre empresas, passa a monitorar ainda mais de perto os cidadãos e extingue focos de oposição.

Xi Jinping, presidente da República Popular da China desde 2013 (Foto: Kremlin.ru via Wikimedia Commons)

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2013 – O político chinês afastado Bo Xilai é julgado em 2013. Bo, uma ex-estrela em ascensão do Partido Comunista que caiu do poder em meio a um escândalo envolvendo assassinato, traição e trapaça financeira, é condenado à prisão perpétua por aceitar suborno. Ele também recebe 15 anos por peculato e sete anos por abuso de poder.

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2013 – A partir da iniciativa One Belt One Road (“Nova Rota da Seda”), a alta concentração da atividade chinesa nos setores agrícolas da América Latina aumenta consideravelmente a demanda em relação aos sistemas de abastecimento de água, ampliando o desmatamento e as emissões de gases de efeito estufa.

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2013 – A partir de uma alteração na legislação chinesa, que dá à polícia o poder de deter qualquer indivíduo em um estabelecimento secreto por até seis meses, prisões sem prévio julgamento passam a ocorrer na China. É a RSDL (vigilância residencial num local designado, da sigla em inglês), um eufemismo burocrático para designar prisão sem condenação judicial. No primeiro ano, são identificados 500 casos. Há indícios de que a RSDL seja usada também para coagir testemunhas em ações judiciais de interesse do governo.

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2015 – Segundo relatos da mídia, o número de greves de trabalhadores atinge um nível recorde neste ano. A ONG China Labour Bulletin menciona 2.509 greves e protestos de trabalhadores e empregados na China. Diz-se que a principal razão para essas greves se deve a muitas demissões e fechamentos de fábricas.

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2016 – Após 37 anos, tem fim a política extrema do filho único. Desde 1979, a política vinha aumentando a dependência da população idosa substancialmente, contribuindo para um índice populacional de gênero predominantemente masculino.

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2016 – A China é tida como um dos países mais desiguais do mundo, muito mais do que a maioria das nações capitalistas. A constatação vem de um estudo da Universidade de Pequim, em 2016, que aponta que 1% das famílias mais ricas detém um terço da riqueza do país.

Um mendigo em frente à Cidade Proibida, em Pequim (Foto: Wikimedia Commons)

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2017 – O governo emite novas diretrizes para empresas privadas, em que elas devem adotar o “pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas”, previsto na Constituição.

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2017 – Mais de 1 milhão de mortes prematuras são registradas por causa da forte poluição do ar, sobretudo nas grandes cidades chinesas. Por conta disso, o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, admite em discurso durante a abertura do Congresso Nacional do Povo em Pequim que o país enfrenta uma grave crise ambiental “que tem deixado cidadãos chineses desejando muito algum tipo de solução para o problema”.

Registro da severa poluição atmosférica em Anyang (Foto: V.T. Polywoda/Flickr – divulgação)

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2017 – Deixando a atmosfera com ares ainda mais “orwellianos”, ocorre o lançamento do plano chinês para monitorar o comportamento dos cidadãos. A digitalização da vida cotidiana permite que o Partido Comunista implemente tecnologias de monitoramento avançadas, que culminam no projeto de Sistema de Crédito Social, por meio do qual o comportamento de cada um dos cidadãos seria pontuado em uma espécie de “ranking de confiança”. Com o modelo de vigilância aprimorado, um grande grupo de pessoas enfrenta um escrutínio ainda mais pesado, dependendo da profissão que exercem. A lista inclui professores, contadores, jornalistas, médicos e guias turísticos.

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2018 – ONU diz que um milhão de uigures estão detidos em campos de detenção pela China. A organização intergovernamental manifesta preocupação com os chamados “campos de reeducação política” para muçulmanos uighur na província chinesa de Xinjiang, e pede a libertação imediata dos detidos sob o pretexto de “combater o terrorismo”.

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2018 – O PCC anuncia a intenção de acabar com o limite de dois mandatos presidenciais inscrito na Constituição, o que abre o caminho para que o presidente Xi Jinping permaneça no poder por tempo indeterminado. O estatuto chinês é alterado para desfazer os limites naquele ano, abrindo caminho para que Xi se mantenha no poder por tempo indeterminado e de forma antidemocrática.

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2018 –  Uma guerra comercial tem início entre as duas maiores economias do mundo: China vs EUA. O presidente Trump impõe várias rodadas de tarifas sobre muitos produtos chineses. Os chineses respondem da mesma forma. Preocupações sobre os efeitos da disputa pairam no mundo e afetam o mercado.

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2018 – Taxa de natalidade em queda reforça suspeitas de esterilização forçada em Xinjiang. O governo local reconhece a redução, que chega a cair quase um terço, mas nega que haja intervenções nas mulheres da minoria uigur na província chinesa. Autoridades relatam que há cerca de mil novos implantes de DIU para cada 100 mil pessoas em 2018, volume que corresponde a 80% de todos os implantes disponibilizados no país naquele ano.

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12/2019 – Covid-19 é detectada. O surto de novo coronavírus é relatado pela primeira vez em Wuhan, uma cidade de 11 milhões de habitantes em Hubei, centro da província chinesa. A Organização Mundial da Saúde declara oficialmente uma pandemia um mês depois.

Cidadãos de Wuhan na fila do lado de fora de uma drogaria durante o surto de coronavírus (Foto: Wikimedia Commons)

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2019-2020 – Protestos reivindicam à líder de Hong Kong, Carrie Lam, que suspenda um projeto de lei de extradição de suspeitos de crimes para a China continental. Carrie cede e retira a proposta, apresentada pela primeira vez em abril de 2019, mas se recusa a ceder nas quatro outras demandas dos manifestantes, que incluíam maior democracia para a cidade e uma comissão independente para a conduta policial.

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2019-presente: Após meses de protestos pró-democracia, Pequim impõe um regime autoritário direto e alerta para que manifestantes não subestimem o ‘imenso poder’ do governo central depois de dias de greves e caos: “quem brinca com fogo morre queimado”. A Lei Draconiana de Segurança Nacional substitui a autonomia de Hong Kong pelo governo e ideologia política do Partido Comunista Chinês.

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2019 – Amazon investiga denúncias de trabalho infantil em fábrica na China. A gigante de tecnologia apura denúncias de que a Foxconn, maior fabricante terceirizada de produtos eletrônicos do mundo com sede em Taiwan, teria contratado crianças em idade escolar para trabalhar durante o turno da noite e fazer horas extras para cumprir metas de produção. As leis de trabalho chinesas permitem que as fábricas contratem estagiários de 16 anos ou mais, mas eles são impedidos de cumprir horas extras ou se submeterem ao trabalho noturno e na madrugada.

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2020 – No período de janeiro a setembro, 17 jornalistas estrangeiros são expulsos do país. Os dados são divulgados no relatório da Associação de Correspondentes Estrangeiros na China. Os vistos dos profissionais não são renovados ou são removidos de forma deliberada após reportagens que denunciam o controle autoritário do presidente Xi Jinping.

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06/2020 – Nova denúncia de que a China impõe controle de natalidade à minoria uigur. Segundo acusações de organizações, o governo chinês impõe medidas de diminuição da taxa de natalidade entre a população uigur e outras minorias. Grupos de Direitos Humanos apontam que o objetivo é diminuir a comunidade muçulmana no país.

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09/2020 – Ensino da língua mongol é reduzido e população vai às ruas em protesto. O governo de Xi Jinping aprova o novo método como parte de um esforço de padronização do currículo escolar chinês. A nova política estabelece que “o dialeto deve ser ensinado, porém diminuído”. Além das manifestações, mongóis organizam petições com centenas de assinaturas, que se espalham pelas redes sociais.

Idoso assina petição pela mantenedoria da língua mongol nas escolas da Mongólia Interior, em agosto de 2020 (Foto: Twitter/Ungerni Khooloi)

71

10/2020 – Jornalista chinês que reportou a Covid-19 em Wuhan reaparece após longo período de sumiço. Chen Qiushi, conhecido por reportar os primeiros casos, foi encontrado após mais de oito meses desaparecido. As autoridades detiveram o jovem em janeiro, afirma um amigo de Chen, Xu Xiaodong, ao jornal britânico “The Guardian“.

72

2020 – O Congresso da China aprova uma lei que aumenta o controle sobre o território semiautônomo. O objetivo é suprimir qualquer ato que possa ameaçar a “segurança nacional”. A lei serve para sufocar atos como os vistos 2019, quando pessoas foram às ruas da ex-colônia britânica contra o que consideram uma crescente influência da China nos assuntos de Hong Kong.

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10/2020 – Mais de 250 chineses tornam-se bilionários desde o início da pandemia. Com os 621 já existentes, o país soma 878 bilionários – o maior número da história do país. O topo da pirâmide, em que 1% dos chineses ostenta um terço da riqueza do país, constrasta cada vez mais com a parte de baixo, reforçando a desigualdade social vigente.

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11/2020 – Em Xinjiang, um em cada 20 uigures passa pelos campos de detenção. A estimativa é do Museu do Holocausto, que vê a perseguição como crime contra a Humanidade. O assédio atinge homens, mulheres, idosos e crianças, afetando até três milhões de integrantes da minoria entre uma população de 12 milhões.

Vista aérea de Urumqi, capital da província chinesa de Xinjiang, em julho de 2017 (Foto: WikiCommons/Anagoria)

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11/2020 – Em meio a tensão crescente no Mar da China Meridional, Beijing busca sancionar uma lei para aumentar os poderes da guarda costeira em águas disputadas. O texto tramita no Parlamento e daria o aval para a China usar todos os meios necessários – incluindo armas – para impedir o que considerar uma “ameaça estrangeira”.

76

2020 – Xi Jinping enfrenta resistência dentro do Partido Comunista da China (PPC). A proeminente professora universitária Cai Xia, atuante na Escola Central do PCC durante 28 anos, diz que o líder chinês, Xi Jinping, enfrenta ampla oposição interna e o acusa de matar o país. Ela afirma afirma que o líder chinês está transformando o PCC em um “zumbi político” e é demitida.

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2020 – A reputação global da China está em queda. Uma pesquisa da Pew Research mostra que uma maioria desconfia do trabalho de Beijing no combate ao novo coronavírus. A maioria afirma, ainda, que não confia em Xi para fazer “a coisa certa” nos assuntos globais.

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2021 – Com Joe Biden na Casa Branca, a tensão continua por disputas nas águas do Mar da China e questionamentos sobre a origem da Covid-19 ― o presidente não descarta a hipótese de que o vírus tenha escapado por acidente de laboratório.

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2021 – Pesca ilegal chinesa na América do Sul impacta ecossistemas e economias locais. Após secar as fontes de pesca na China, pesqueiros têm rumado às águas do Pacífico Sul, driblando a fiscalização. Tais operações vêm contribuindo para a redução da população de peixes, perda da biodiversidade e destruição de habitats marinhos, fatores que resultaram na queda de produtividade do setor e no empobrecimento de pescadores nativos de países como Argentina, Chile, Peru e Equador. Os chineses são responsáveis pela maior fatia de pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (da sigla em inglês IUU – illegal, unreported and unregulated fishing) em todo o mundo.

80

2021 – A China rejeita as acusações de ter “objetivos políticos” em sua distribuição de imunizantes contra a Covid-19. O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian, é enfático: “não fazemos diplomacia de vacinas”. Um relatório da tradicional revista norte-americana “Foreign Affairs” contesta: “Ao demonstrar sua capacidade tecnológica, a China pavimenta seu estratégico caminho rumo ao pódio da liderança global em saúde”, afirma a publicação.

Vacina Coronavac, produzida por farmacêutica chinesa, em registro de dezembro de 2020 (Foto: Divulgação/Marco Verch)

81

2021 – Ativistas contestam financiamento de usina de carvão em Bangladesh pela China. Usina ainda não funciona, mas já fez seis mortos, mais de 100 feridos e gerou 6 mil casos de assédio no sul de Bangladesh.

82

2021 – Mais um caso de mão de obra forçada é denunciado. Investigação realizada por um grupo de Direitos Humanos divulga um relatório que acusa sete fornecedores da Apple de utilizar o método. As fábricas são acusadas de usar uigures à força em suas instalações.

83

2021 – O avanço da Covid-19 se torna um álibi para o governo chinês reiniciar uma campanha contra religiões como o Cristianismo e o Islã. De acordo com o jornal norte-americano “The Wall Street Journal”, Beijing retomou um plano de “reescrever clássicos religiosos”, como a Bíblia e o Alcorão. A medida seria algo como uma “adaptação aos valores socialistas”. Todo material contrário às crenças do Partido Comunista Chinês deve ser removido. Além disso, o grupo deverá alterar ou “retraduzir” parágrafos considerados “errados” pelos censores.

84

2021 – O dissidente de Hong Kong Joshua Wong, uma das figuras mais conhecidas do movimento pró-democracia, é condenado a mais 10 meses de prisão por ter participado em 2020 em uma vigília “ilegal” de recordação da repressão na Praça da Paz Celestial. Pela primeira vez em 30 anos, o governo não havia autorizado a vigília em 4 de junho de 2020, apresentando como pretexto a luta contra a pandemia.

85

2021 – China é envolvida na crise política em Mianmar, onde teria trabalhado nos bastidores do golpe a favor dos militares. Várias fábricas chinesas são incendiadas no país do sudeste asiático, e trabalhadores chineses se escondem de manifestantes que acusam Pequim de conivência com a junta militar. Xi Jinping nega e enfrenta um aumento no sentimento anti-China neste país aliado.

86

2021 – Deputado de Hong Kong é detido pela China. Na maior operação em Hong Kong até então com base na lei de segurança nacional, mais de 50 pessoas são presas, incluindo dezenas de figuras da oposição. Entre eles, o ex-deputado Lam Cheuk-ting, que em 11 de novembro renuncia ao cargo após a expulsão de quatro companheiros do Parlamento. 

87

2021 – O centenário do Partido Comunista Chinês (PCC) ganha uma homenagem peculiar. Cem rappers chineses se reúnem para gravar um rap com mais de 15 minutos que exalta a sigla e o país, num movimento que vai na contramão da ação contestatória da cena hip hop do resto do mundo e demonstra a influência do autoritarismo na arte urbana.

Grupo de hip-hop CD Rev marcou presença na música em homenagem ao centenário do Partido Comunista Chinês (Foto: Divulgação)

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2021 – China é um dos três países que mais despeja plástico no oceano. Um relatório da empresa britânica Raja aponta que a China, ao lado de Índia e Indonésia, são os três países que mais jogaram matéria plástica na água em 2020. Foram mais de 70,7 milhões de quilos descartados irregularmente.

89

2021 – China quebra acordos e pratica pesca ilegal. O alerta de diversos governos ao redor do mundo para o avanço das milícias chinesas em águas internacionais se ancora em uma prática recorrente de navios pesqueiros do país que já ganha contornos globais. Acusadas de pesca ilegal, as embarcações com bandeiras da China não só geram uma crise ambiental, como desafiam as fronteiras geopolíticas.

90

2021 – Emissão de gases da China supera a de todos os países desenvolvidos juntos, aponta relatório. O país lidera o ranking dos países que mais poluem, com 27% das emissões globais de dióxido de carbono.

91

2021 – Um terço dos escritores e intelectuais detidos em 2020 são da China, diz a ONG de Direitos Humanos PEN America. O número aumentou em relação a 2019, em grande parte por conta da pandemia. Só a China prendeu 81 escritores – mais da metade por relatar e criticar a resposta de Beijing à Covid-19. Quase metade dos detidos foi presa por denunciar violações nas regiões autônomas de Xinjiang, Tibete, Mongólia Interior e Hong Kong.

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06/2021 – China tem a pior escassez de energia em dez anos e prejudica países vulneráveis. A crise de energia é resultado do clima extremo, da maior demanda por eletricidade e dos limites estritos no uso de carvão, que deram um golpe triplo na rede elétrica do país. O impacto é sentido no comércio global.

93

2021 – China representa perigo de guerra. Pela primeira vez, o comunicado de uma cúpula da Otan menciona a República Popular da China, que se encontra bem longe do Atlântico Norte, e a descreve como um “desafio sistêmico”. A aliança de defesa do mundo livre observa, alarmada, como a China aumenta seu arsenal nuclear e desenvolve novos sistemas de lançamento de mísseis nucleares. Ao mesmo tempo, os autocratas de Pequim e Moscou estão se aproximando militarmente.

94

2021 – Acusações de espionagem por rede 5G pairam no país. Samanta Power, ex-embaixadora dos Estados Unidos na ONU (Organização das Nações Unidas), agora indicada por Biden para comandar a USAid – maior agência de desenvolvimento do mundo – disse que a China usa a rede 5G para “espionagem comercial”.

95

2021 – Cresce a tensão com Taiwan. Pequim ameaça ilha com 28 aviões e diz que não vai tolerar “conluio” com aliados dos EUA. O fato ocorre em retaliação ao comunicado do G7 defendendo Taiwan, marcado pela maior incursão de aviões militares contra o espaço aéreo taiwanês da história. As tensões geopolíticas escalam com rapidez no Estreito de Taiwan. A China endurece sua retórica contra as reivindicações de independência da ilha autônoma de 2020, a medida que o governo taiwanês se aproxima dos EUA.

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2021 – País é novamente acusado de uso de órgãos de prisioneiros para realizar transplantes. Especialistas da ONU comunicam que receberam “informações confiáveis” de que o alvo agora são prisioneiros de minorias étnicas, linguísticas e religiosas submetidos à extração forçada de órgãos na China. Em um comunicado, os relatores especiais, bem como os especialistas do Grupo de Trabalho da ONU sobre Detenção Arbitrária, indicam que as remoções têm como alvo uigures, tibetanos, muçulmanos e cristãos detidos na China.

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3/2021 – Começa o julgamento de dois cidadãos canadenses presos em 2018 sob acusação de espionagem. Michael Spavor é empresário e organiza intercâmbios culturais com a Coreia do Norte. Michael Kovrig trabalha para a ONG International Crisis Group. A prisão de ambos é uma retaliação à prisão da empresária chinesa Meng Wanzhou, uma das principais executivas da Huawei, no Canadá, sob acusação de espionagem industrial.

O canadense Michael Spavor é uma das vítimas do sistema de detenções sem julgamento na China (Foto: Wikimedia Commons)

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2021 – China mostra pouca transparência na construção de reatores nucleares. Um pequeno grupo de especialistas em energia nuclear mostra preocupação. Especialistas do Nonproliferation Policy Education Center (NPEC) afirmam que com a quantidade de plutônio que os reatores rápidos produzirão, a China, se quiser, pode ter 1.270 ogivas nucleares até 2030.

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2021 – China dá suporte à Coreia do Norte. É uma relação de longa data, desde a Guerra da Coréia (1950-1953), quando tropas chinesas desembarcaram na Península Coreana para ajudar seu aliado do norte. Desde então, a China dá suporte político e econômico aos líderes da Coreia do Norte: Kim Il-sung (1948–1994, que teve seu despertar ideológico no PCC quando jovem), Kim Jong-il (1994–2011) e, hoje, Kim Jong-un. O país liderado por Xi Jinping é o parceiro comercial mais importante dos norte-coreanos. E estende a mão além. Ajuda a sustentar o governo de Kim Jong-un e se opõe às duras sanções internacionais aos vizinhos. Há interesses nisso, como evitar o colapso do regime totalitário coreano e a consequente concentração de refugiados na fronteira chinesa.

Pinturas em culto a personalidade de Kim Il Sung são encontradas em todas as cidades, vilas e aldeias da Coreia do Norte (Foto: Wikimedia Commons)

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2021 – Grupos chineses dos direitos LGTB são bloqueados nas redes sociais. Várias contas de grupos de estudantes chineses a favor dos direitos da comunidade gay e do feminismo são bloqueadas no popular aplicativo WeChat, gerando convocações de protestos on-line. As páginas de grupos do WeChat – como a Gay Pride, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, e a ColorsWorld, da Universidade de Pequim – são suprimidas. Em seu lugar, aparece uma mensagem, informando que “o conteúdo foi bloqueado, e o uso da conta foi suspenso”.

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