União Europeia resiste à pressão de Trump por tarifas de 100% contra a China

Chefe da Casa Branca propôs medidas comerciais radicais como estratégia para pressionar Moscou, mas blocos divergem sobre o uso de tarifas e sanções

A União Europeia (UE) rejeitou a proposta de Donald Trump para impor tarifas entre 50% e 100% sobre produtos chineses como forma de enfraquecer a Rússia em meio à guerra na Ucrânia. A iniciativa, anunciada pelo republicano em uma publicação nas redes sociais, já havia sido antecipada pela imprensa e agora se tornou política oficial de Washington. As informações são da Euronews.

Na chamada “carta” divulgada online, Trump defendeu que tarifas punitivas sobre a China, aliadas ao fim imediato das compras de petróleo russo, seriam “de grande ajuda” para encerrar o que chamou de “guerra mortal, mas ridícula”. Segundo ele, Beijing mantém “domínio” sobre Moscou, e medidas econômicas poderiam quebrar essa relação.

Emmanuel Macron, Xi Jinping e Ursula von der Leyen em Beijing no ano de 2023 (Foto: WikiCommons)

O pedido surge em um momento de maior coordenação entre EUA e UE para pressionar o Kremlin. Nos últimos dias, autoridades americanas e europeias realizaram reuniões sobre sanções, incluindo encontros do secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e do secretário de Energia, Chris Wright, com representantes de Bruxelas.

UE rejeita tarifas de três dígitos

Apesar dos esforços conjuntos, a Comissão Europeia foi categórica ao descartar a ideia de Trump. “Quaisquer novas medidas no próximo pacote de sanções seguirão estritamente as regras da UE e não terão aplicação extraterritorial”, disse um porta-voz do bloco.

Diplomatas foram ainda mais diretos: “de jeito nenhum”.

A recusa tem base em três fatores principais:

  1. Diferença entre tarifas e sanções – Para a UE, tarifas são instrumentos de comércio, enquanto sanções pertencem ao campo da política externa.
  2. Falta de consenso interno – Estados-membros divergem sobre uma postura mais dura contra a China, que é um dos maiores parceiros comerciais do bloco.
  3. Risco de retaliação chinesa – Beijing já demonstrou disposição para contra-atacar em casos semelhantes, restringindo exportações estratégicas e investigando setores europeus como carne suína e conhaque.
Reação da China e riscos para a Europa

Após o anúncio de Trump, o governo chinês alertou que tomará “medidas resolutas” caso seus interesses sejam prejudicados. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, classificou as tarifas unilaterais como “abusivas e ilícitas”.

A União Europeia teme que uma escalada nesse nível afete diretamente sua economia, sobretudo em setores estratégicos como energia, tecnologia e defesa. Com histórico de retaliar rapidamente, a China já demonstrou capacidade de gerar impactos globais em poucos dias.

Especialistas criticam proposta de Trump

Analistas afirmam que as tarifas propostas pelo republicano teriam mais chance de prejudicar a Europa do que a Rússia. “Medidas punitivas dessa magnitude minariam o sistema de comércio global e fragilizariam a economia europeia”, disse Engin Eroglu, eurodeputado alemão.

A pesquisadora Maria Shagina, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), avalia que Trump não busca de fato pressionar Moscou. “Suas exigências maximalistas apenas reforçam que ele não leva a sério a aplicação de sanções. Os prazos que ele mesmo impôs já expiraram sem nenhuma ação concreta”, afirmou à Euronews.

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