Este conteúdo foi publicado originalmente em inglês pelo site The Moscow Times
Por Pyotr Kozlov*
A invasão em larga escala da Ucrânia pelo presidente Vladimir Putin, um líder autoritário com armas nucleares, representa um desafio aparentemente insolúvel para a diplomacia ocidental. Enquanto bombas de cruzeiro e mísseis balísticos russos têm caído sobre ucranianos pacíficos há dois anos e meio, os aliados ocidentais de Kiev ainda não conseguiram superar suas divergências internas para decidir se negociarão ou lutarão contra Putin. Quanto mais visível for essa indecisão, mais brutalmente a Rússia atacará a Ucrânia.
As sanções econômicas não foram suficientes para enfraquecer Putin e torná-lo maleável. Para o Kremlin, as restrições econômicas em larga escala foram um passo delicado, mas previsível, e, portanto, não uma ameaça existencial.
Em vez do dinheiro ocidental proveniente do gás e do petróleo, um fluxo de fundos da China e da Índia foi direcionado para a Rússia, permitindo que o Kremlin comprasse a lealdade das elites russas hesitantes, aumentasse os pagamentos à população e financiasse a produção em larga escala de munições. Putin, um ex-oficial da KGB soviética, paranoico em relação a qualquer dissidência, viu sua confiança e estabilidade crescerem após ser reeleito para outro mandato presidencial este ano. Coincidentemente, seu principal adversário, o ativista anticorrupção Alexei Navalny, morreu misteriosamente na prisão pouco antes da eleição.
Os serviços especiais — o FSB, herdeiro dos chekistas soviéticos; o Comitê Investigativo, liderado pelo contemporâneo de Putin no Instituto Estatal de Leningrado, Alexander Bastrykin; e a Guarda Nacional Rosgvardia, comandada pelo ex-guarda de segurança pessoal de Putin, Viktor Zolotov — atuaram como uma força dissuasiva contra qualquer dissidência na Rússia.
Outro revés aguardava o Ocidente em sua tentativa de isolar Putin, tornando-o uma persona non grata no cenário mundial. Embora o mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia continue em vigor, líderes das principais potências gradualmente retomaram suas visitas a Moscou. Xi Jinping, da China, segue promovendo uma “parceria sem limites” com Moscou. Nesta semana, o recém-reeleito primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, visitou a residência de Putin nos arredores de Moscou, abraçando-o e chamando-o de “querido amigo” e “Vossa Excelência”.
Ainda mais flagrante para o Ocidente foi ver o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán sendo levado para negociações no Kremlin na luxuosa limusine Aurus de Putin (sancionada pelos EUA), acompanhado por uma comitiva, do Aeroporto Vnukovo, administrado pelo governo de Moscou, para onde as companhias aéreas ocidentais não voam desde o início da guerra.
Orban, líder da presidência húngara da Comissão Europeia, estava viajando para discutir os termos de um possível cessar-fogo na Ucrânia. Líderes europeus estão indignados. O Kremlin, por outro lado, assistiu ao escândalo no Twitter com indisfarçável escárnio, segundo fontes internas.
Líderes ocidentais têm defendido desde o início da invasão em grande escala que a Ucrânia recupere o território anexado pela Rússia e que Putin sofra uma derrota estratégica no campo de batalha.
Desde o início da invasão, eles prometeram armas a Kiev para sua defesa. No entanto, as entregas dessas armas foram marcadas por atrasos, o que impediu que a contraofensiva ucraniana do verão de 2023 obtivesse conquistas significativas. Da mesma forma, a Rússia aproveitou os atrasos na reposição dos exaustos sistemas de defesa aérea da Ucrânia para bombardear suas cidades e infraestrutura de energia com bombas planadoras e mísseis, e até mesmo lançou um novo avanço na região de Kharkiv.
*Repórter do The Moscow Times que oferece uma visão privilegiada dos corredores do poder no Kremlin.