Após o Canadá, EUA acusam a Índia de ligação com tentativa de assassinato em Nova York

Departamento de Estado diz que um funcionário do governo indiano participou da conspiração contra um ativista sikh

Os EUA bem que tentaram, mas não conseguiram se manter alheios a uma crise diplomática com a Índia desencadeada pela morte de um líder separatista sikh no Canadá. Na quarta-feira (29), o Departamento de Estado norte-americano anunciou que um caso semelhante foi registrado em Nova York, segundo informações da rede Deutsche Welle (DW).

Em junho deste ano, o líder separatista sikh Hardeep Singh Nijjar foi assassinado no estado canadense da Colúmbia Britânica. Pouco depois, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, sugeriu o possível envolvimento de autoridades indianas e convocou seus aliados a se juntarem em uma cruzada diplomática contra Nova Délhi. Foi ignorado e se viu isolado internacionalmente.

Prédio do Departamento de Estado dos EUA (Foto: divulgação)

Agora, entretanto, Washington se vê na obrigação de ingressar no problema, ao acusar o governo da Índia de ligação com uma tentativa de assassinato contra um separatista sikh em Nova York. O caso teve a participação direta de um funcionário público indiano.

“O réu conspirou na Índia para assassinar, aqui mesmo na cidade de Nova York, um cidadão norte-americano de origem indiana que defendeu publicamente o estabelecimento de um Estado soberano para os sikhs”, disse o promotor federal Damian Williams.

A acusação envolve não apenas o funcionário do governo não identificado, que teria atuado a partir do território indiano para orquestrar o assassinato de Gurpatwant Singh Pannun, segundo revelou a revista Newsweek. Outro envolvido na conspiração é Nikhil Gupta, que está preso República Tcheca, onde é alvo de um processo de extradição para o território norte-americano.

Gupta teria entrado em contato com um suposto aliado nos EUA, que indicaria um assassino de aluguel para cometer o crime. O indivíduo que faria a conexão, entretanto, era na verdade um agente da polícia norte-americana infiltrado.

O governo indiano disse que leva a sério as acusações e que uma investigação foi estabelecida para  “para analisar todos os aspectos relevantes da questão”, de acordo com a DW.

Pannun, por sua vez, não poupou Nova Délhi. “O atentado contra a minha vida em solo americano é o caso flagrante do terrorismo transnacional da Índia, que se tornou um desafio à soberania dos EUA e uma ameaça à liberdade de expressão e à democracia, provando inequivocamente que a Índia acredita no uso de balas, enquanto os sikhs pró-Khalistão acreditam nas votações”, disse ele à Newsweek.

Separatista

Os separatistas sikh buscam estabelecer um estado chamado Khalistão na região indiana de Punjab. O movimento tem apoio tanto na Índia quanto entre a vasta diáspora sikh global. Durante as décadas de 1980 e 1990, uma insurgência separatista em Punjab resultou na morte de milhares de pessoas, e em 2023 o governo indiano lançou uma extensa operação para capturar um líder militante local.

A partir dali, a perseguição aos separatistas e ativistas da causa se espalhou mundo afora. Foi o Canadá quem primeiro chamou a atenção para o possível envolvimento do governo indiano em crimes contra líderes sikh em solo estrangeiro, ao denunciar a relação direta de Nova Délhi com a morte de Hardeep Singh Nijjar.

Nijjar, de 45 anos, foi assassinado a tiros em Surrey, um subúrbio de Vancouver com uma significativa comunidade sikh. O incidente ocorreu três anos após a Índia rotulá-lo como “terrorista”. Supostamente, ele estava envolvido na organização de um referendo não oficial na Índia com o objetivo de estabelecer uma nação independente quando foi morto.

Antes de Nijjar ser baleado por homens armados mascarados, a Índia havia intensificado uma campanha para pressionar países como Canadá, AustráliaReino Unido e Estados Unidos, que abrigam comunidades sikh significativas e frequentes manifestações pró-Khalistão, pedindo a essas nações que reprimam esse movimento.

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