Armas de propaganda, balões e alto-falantes alimentam a tensão entra as duas Coreias

Países apostam em métodos pouco usuais para incomodar o vizinho e fortalecer suas narrativas perante a população alheia

A guerra de propaganda entre as Coreias do Sul e do Norte segue a todo vapor, alimentando uma tensão histórica que ao menos até agora não levou a um conflito militar. Nos últimos dias, em vez de armas, os dois governos têm usado balões carregando folhetos e lixo, além de poderosos alto-falantes, para incomodar um ao outro e fortalecer suas retóricas perante a população alheia.

As provocações teriam sido iniciadas por ativistas sul-coreanos que enviaram balões em direção ao Norte com panfletos criticando o regime de Kim Jong-un e cartões de memória com músicas de K-pop, que são proibidas em território norte-coreano. Em resposta, os sul-coreanos alegam que mais de mil balões com lixo e até fezes foram enviados pela Coreia do Norte, o que levou a população de algumas áreas do Sul a temer um ataque aéreo.

Autoridades das Coreias do Sul e do Norte se encontram em 1997 (Foto: Collection – North Korea/Picryl)

A malcheirosa ação do regime norte-coreano incomodou Seul, que resolveu retomar a antiga prática de usar potentes alto-falantes voltados ao país vizinho para enviar propaganda anticomunista à população do Norte. Pyongyang, claro, respondeu na mesma moeda e, segundo a agência Associated Press (AP), está instalado suas próprias caixas de som para fazer barulho do outro lado da fronteira.

A troca de provocações, que mais parece uma rixa entre vizinhos rabugentos, já levou a desdobramentos sérios. Kim Yo-jong, a poderosa irmã do líder norte-coreano Kim Jong-un, divulgou um comunicado no qual condena o envio de propaganda através dos balões sul-coreanos, chamando o material de “lixo de agitação política”.

Segundo ela, os balões enviados de volta ao Sul continham apenas papel descartado pela população de seu país, negando que houvesse fezes ou lixo em geral. Ainda prometeu que, caso o país vizinho não interrompa tais atos, “sofrerá o amargo constrangimento de recolher resíduos de papel sem descanso, e esse será o seu trabalho diário.”

O texto contém ainda um alerta de que a situação pode escalar para algo mais sério se a provocação sul-coreana não for interrompida. “Advirto severamente Seul para cessar imediatamente as suas atividades perigosas que provocariam ainda mais uma crise de confronto”, afirma Kim Yo-jong no texto.

Som alto no Norte

De acordo com Lee Sung-joon, porta-voz do Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul, as transmissões através dos alto-falantes ocorreram no domingo (9), em locais onde seus soldados estão preparados para responder a uma eventual ação militar vinda do outro lado da fronteira.

A autoridade não especificou que tipo de conteúdo foi difundido através das caixas de som, nem deu maiores detalhes sobre a localização das transmissões. Ele também afirmou que as transmissões não tiveram continuidade nesta segunda-feira (10).

No passado, segundo a AP, textos anticomunistas e músicas de K-Pop foram direcionados ao Norte, e em 2015 Pyongyang chegou a disparar tiros de artilharia em resposta à propaganda difundida por Seul através de seus alto-falantes.

Devido ao histórico, o ministro da Defesa sul-coreano, Shin Won-sik sugeriu que as Forças Armadas fiquem de prontidão para uma eventual ação militar da Coreia do Norte.

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